Diversas espécies de aves estão declínio em Portugal
03-11-2022 - 20:08
 • Lusa

Entre as espécies a perder população listadas pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, destacam-se animais como o pintassilgo, o pardal, a andorinha-das-chaminés e o cuco.

O declínio de diversas espécies de aves é destacado no relatório divulgado hoje sobre “O Estado das Aves em Portugal 2022”, no qual se apela a que se faça mais pela sua conservação e habitats.

No caso das aves associadas a ambientes agroflorestais, estão a diminuir em Portugal as populações de picanço-barreteiro e da rola brava, enquanto nas típicas de ambientes agrícolas se encontram a andorinha-das-chaminés, a milheirinha, o pintassilgo e o pardal.

O relatório da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) reúne os resultados recentes de 11 programas de monitorização, “das populações nidificantes, migradoras e invernantes de aves”, e de dez censos dirigidos, além de dar a conhecer “duas plataformas para registo de observações de aves, que são também ferramentas de monitorização”.

Em relação às aves noturnas, estão em declínio algumas espécies comuns e também associadas aos habitats agrícolas, como a coruja-das-torres e o mocho galego, “espécies que vivem próximo das pessoas nos meios rurais e que têm um papel ecológico fundamental no controlo de ratos e insetos”.

“No período invernal, é substancial o declínio de espécies habituais nas pastagens e campos de agricultura extensiva, como é o caso do sisão, do abibe e da gralha-de-nuca-cinzenta, mas também de espécies mais comuns ou de distribuição mais generalizada, como a perdiz ou o peneireiro”, indica o relatório.

Dentro do grupo das aves associadas aos ambientes agrícolas, 30% das espécies estão em declínio, um terço apresenta uma tendência estável e 17% revelam uma tendência positiva.

Em declínio estão igualmente algumas das espécies que fazem ninho nos ambientes florestais, como o chapim-real ou o cuco, enquanto no caso das populações de aves que se deslocam a Portugal durante o inverno verifica-se uma tendência negativa da toutinegra-de-barrete e do tordo-comum.

Em sentido inverso, o relatório refere que a tendência é positiva para o pombo-torcaz, no primeiro caso, e para as populações de cegonha e de pega, no segundo.

“Nas zonas húmidas, algumas espécies nidificantes têm tido crescimentos populacionais substanciais, como a íbis-preta e o corvo-marinho, mas espécies como o carraceiro (ou garça-boieira) tiveram um declínio acentuado”, adianta.

A garça-boieira (ou carraceiro) é a espécie mais abundante nas colónias de aves aquáticas, mas o seu número diminuiu cerca de 75% em sete anos (2014-2021), segundo o programa de monitorização das aves aquáticas.

Tendência demográfica positiva é a das “populações invernantes nacionais de pato-colhereiro e borrelho-grande-de-coleira”.

De acordo com o relatório “no estuário do Tejo, as contagens de aves aquáticas apontam para o declínio do alfaiate e da marrequinha, enquanto os números de flamingos e íbis-preta têm tido uma tendência de crescimento”.

Na orla costeira do continente e ilhas registou-se “um enorme aumento da população nidificante de gaivotas”, mas no caso do borrelho “há um preocupante decréscimo da sua população nidificante a nível nacional”.

A diminuir estão igualmente as rolas-do-mar e os borrelhos-de-coleira-interrompida, enquanto se mantêm estáveis os números relativos ao pilrito-das-praias e ao maçarico-galego.

“No ambiente marinho, o alcaide, a gaivota-de-cabeça-preta ou o garajau-de-bico-preto apresentam tendências negativas, assim como a pardela-balear, uma espécie criticamente ameaçada”, mas o crescimento da população nidificante de gaivota-de-audouin na Ria Formosa tem sido positivo e este “é atualmente o maior núcleo reprodutor desta espécie globalmente ameaçada”, indica a SPEA no relatório.

A situação das populações dos grifos e dos britangos, espécies que costumam fazer os ninhos em rochas, também é distinta, enquanto “o britango apresenta um decréscimo de 10% da população nidificante, o grifo aumentou os seus números cinco vezes, relativamente aos censos nacionais realizados há cerca de 20 anos”.

A SPEA considera no estudo que Portugal pode e deve fazer mais pela conservação das aves e dos seus habitats, incluindo a sua monitorização.

“Afinal de contas, temos a responsabilidade de ser a casa de muitas espécies únicas (por exemplo, o priolo, a freira--da-madeira, o painho-de-Monteiro)” e é nas águas portuguesas que “a ave marinha mais ameaçada da Europa, a pardela-balear, vem procurar alimento durante a migração e pós-reprodução”, assinala, adiantando que nas ilhas de Portugal se podem “encontrar populações nidificantes de espécies ameaçadas na Europa, como o calca-mar ou a gaivota-de-audouin”.

De acordo com a Lista Vermelha das Aves da Europa 2021, divulgada em outubro do ano passado, uma em cada cinco espécies de aves do continente está ameaçada de extinção

O relatório, publicado pela associação internacional de defesa das aves BirdLife International, que junta associações de todo o mundo, incluindo a SPEA, avalia o risco de extinção de 544 espécies de aves em mais de 50 países e territórios da Europa.

As “avaliações do risco de extinção e de tendências populacionais à escala europeia”, importantes para se compreender “a situação das espécies a uma escala de maior dimensão, não eram possíveis sem a monitorização das espécies que ocorre em cada país”, lembra a SPEA no estudo divulgado hoje.

Em Portugal, esta vigilância e acompanhamento “depende do esforço e dedicação de inúmeros voluntários e colaboradores”, contributo que a organização não-governamental de ambiente classifica de “inestimável”, sem esquecer o das “entidades que organizam os censos e programas de monitorização”, como o Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, Universidades e várias ONG, além da SPEA.