Quando a pandemia terminar, apenas 5 % dos jovens entre os 15 e os 24 anos que já usavam a internet como parte da experiência religiosa, pretende continuar a utilizar recursos digitais neste âmbito.
Esta é uma das conclusões do estudo "Prática religiosa e experiência digital durante a pandemia: inquérito à população católica portuguesa", agora divulgado, que diz que são os mais velhos que desejam prolongar a utilização deste tipo de ferramentas. De acordo com o relatório, 53% dos católicos entre os 45 e os 65 anos quer continuar a usar estes meios para rezar ou participar na missa.
“Quando começámos a comparar a percentagem de indivíduos que já usava meios digitais antes da pandemia, com a dos que pretendem continuar a utilizá-los após a pandemia, verificamos que a percentagem era semelhante, mas que não eram as mesmas pessoas”, diz a investigadora Clara Almeida Santos, explicando que 2/3 das pessoas que procuraram, pela primeira vez, ferramentas e conteúdos digitais de teor espiritual com o primeiro confinamento, deseja manter a utilização. Por outro lado, 20% dos já usavam antes, quer interromper o uso.
“A faixa etária onde mais gente vai desistir é a faixa etária dos 15 aos 24 anos. Podíamos pensar que os mais jovens têm maior apetência para este tipo de recursos digitais, mas não é isso que o nosso estudo revela”, considera a professora da Universidade de Coimbra. E acrescenta: “Pode ter a ver com a necessidade de contacto com a comunidade física. Passaram grande parte do confinamento em ensino à distância, na prática espiritual ou religiosos pretendem regresso à vivência física”.
A importância da missa no confinamento
O estudo, desenvolvido por Clara Almeida Santos e Margarida Franca, investigadora do Instituto Politécnico de Leiria, mostrou ainda que, nos dois confinamentos, 70% dos inquiridos assistiu telematicamente à missa uma ou mais vezes por semana. Mais de 50% revelou ter assistido com familiares ou outras pessoas, o que “demonstra que o sentido comunitário se manteve”. A plataforma mais utilizada foi o Youtube (49,5%), seguida da televisão, do Facebook e do Zoom ou congénere. Nos inquiridos com mais de 45 anos, a televisão foi o meio mais referido.
Com o regresso aos encontros presenciais, o número de pessoas a participar na missa online diminuiu, mas continua a ser relevante em algumas comunidades, diz Margarida Franca. “Dou-lhe um caso de Coimbra. Se antigamente havia cerca de 200 pessoas a assistir à eucaristia via zoom, agora há cerca de 70”, diz, acrescentando que estamos perante um “regime misto”. “Continua a haver um número elevado de pessoas online. A situação pandémica não está resolvida e algumas pessoas estão, de alguma maneira, ainda confinadas por uma situação específica familiar. Há também quem possa ter-se habituado a esta forma de estar.”
Cansados de ecrãs, sem perder o sentido comunitário
Tal como noutras áreas, também na prática religiosa houve “cansaço pandémico”, sobretudo no segundo confinamento, diz a investigadora. A assiduidade nas celebrações online, entre os elementos do grupo que participava mais de uma vez por semana, diminuiu 5%. O número de pessoas sozinhas aumentou 15%, do primeiro para o segundo confinamento.
Durante a pandemia, os católicos inquiridos revelaram que a pertença a uma comunidade se manteve, apesar da distância física: no segundo confinamento, 35% das pessoas recorreu a conteúdos disponibilizados pela paróquia ou comunidade e 16% acedeu a esses recursos através da paróquia/comunidade e de pessoas conhecidas.
De acordo com as autoras do estudo, ao longo da pandemia, “as paróquias têm-se adaptado às transformações motivadas pela pandemia, tornando-se na principal fonte a que os fiéis recorrem em busca de conteúdos digitais”.
A pesquisa conclui ainda que “a pandemia não apanhou a Igreja Católica desprevenida a nível da disponibilização deste tipo de recursos”. “Pessoas que não utilizavam meios digitais para complementar ou até, durante a pandemia, substituir algumas práticas religiosas, descobriram estas ferramentas, mas já havia uma percentagem grande de inquiridos que revelava usar estes recursos”, frisa Clara Almeida Santos.