“Líderes muçulmanos devem condenar terrorismo sem ambiguidade”
16-01-2016 - 14:37
 • Filipe d'Avillez

O secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, faz um ponto de situação das relações da Santa Sé com o mundo e diz que o Papa não desistiu de ir à China, “quando o tempo estiver maduro”.

Perante o fenómeno do terrorismo islâmico a Igreja Católica responde com a aposta reforçada no diálogo inter-religioso, diz o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin.

Mas a principal resposta a estes casos tem de vir dos clérigos muçulmanos, sublinha o cardeal. “Perante o recurso à religião para justificar a violência, são os líderes muçulmanos em primeiro lugar que devem condenar sem ambiguidade todos e cada um dos actos de terrorismo cometidos em nome do Islão. A eles é que cabe, em primeiro lugar, ensinar claramente a total incompatibilidade entre a violência e a religião”.

“A Igreja Católica, por sua vez, deve continuar a comprometer-se com o diálogo inter-religioso, porque hoje, mais que nunca, é necessário encontrarmo-nos e conversar”, diz ainda, recordando que não se pode generalizar em relação à violência e ao Islão: “Por ocasião dos atentados de Paris, em Janeiro e Novembro passados, houve muçulmanos que tiveram gestos valentes para salvar vidas humanas. Não nos podemos esquecer que a maior parte das vítimas do extremismo islâmico são elas mesmo muçulmanas.”

Em entrevista à revista espanhola “Vida Nueva”, o cardeal diz que a Igreja não pode ceder ao terrorismo no que diz respeito ao medo de atentados em Roma durante o jubileu da Misericórdia. “É preciso que os responsáveis pelo bem comum tomem todas as medidas de segurança para prevenir e evitar os atentados. Estou seguro de que a Itália o está a fazer, como parte da hospitalidade e generoso acolhimento que dá aos peregrinos a Roma que sempre a caracterizou.”

“Não nos podemos deixar paralisar pelo medo. É isso que os terroristas querem. Há que reagir com valor e fortaleza contra este sentimento e fazê-lo juntos”, diz o cardeal que, na qualidade de Secretário de Estado, é o número dois na estrutura governativa da Santa Sé, logo a seguir ao Papa.

Durante esta entrevista, Parolin recorda a importância da crise dos refugiados para o Papa Francisco, lembrando que a sua primeira viagem para fora de Roma foi a Lampedusa, e confirma também que tem acesso fácil a Francisco, encontrando-se formalmente com ele uma vez por semana, mas contactando-o por telefone sempre que precisa.

“Há duas coisas que me marcam nos encontros com o Santo Padre. Primeiro, a forma como se põe sempre em atitude de discernimento perante qualquer decisão, uma atitude em que a oração tem um papel importante para poder chegar a uma decisão madura diante do Senhor, que seja segundo a sua vontade. Depois, a sua serenidade perante as situações, incluindo as mais complicadas e difíceis, que brota de uma profunda paz interior.”

Papa com vontade de ir à China

No que diz respeito às relações com outros estados, que é a principal responsabilidade do secretário de Estado, Parolin fala da situação da China, um país com o qual a Santa Sé tem uma história de relações turbulentas.

A China reprime a Igreja Católica dentro das suas fronteiras, insistindo que cabe às autoridades católicas locais, controladas pelo Governo, a escolha dos bispos, por exemplo. A Igreja na China encontra-se assim dividida entre os que são leais à “igreja patriótica”, reconhecida pelo Estado, e a Igreja clandestina, que reconhece a autoridade do Papa.

Mas nos últimos anos a situação tem melhorado e há sinais de abertura que podem, na esperança do Papa, abrir as portas da China a uma visita papal. “O Santo Padre tem manifestado repetidamente não só a sua disponibilidade como a sua vontade de poder ir à China, país de que gosta muito. Hoje não é fácil fazer previsões. Quando os tempos estiverem maduros, então também esta viagem poderá ser realizada”, diz Parolin.

“É certo que temos questões muito complexas pela frente, que exigem tempo e paciência”, reconhece, dizendo que o que interessa ao Vaticano é o futuro dos católicos chineses, “para que se sintam verdadeiramente católicos e plenamente chineses e contribuam assim para a harmonia de toda a sociedade”, conclui o cardeal Pietro Parolin.