A entrevista de Madre Teresa de Calcutá à Renascença. E as viagens a Portugal
01-09-2016 - 14:17
 • Redacção com Pedro Mesquita e Aura Miguel

Foi em 1997, a Índia estava em vésperas de comemorar o 50.º aniversário da independência. A Renascença conseguiu chegar à fala com Madre Teresa de Calcutá, ao telefone, a partir da casa das Missionárias da Caridade onde vivia. A religiosa acabaria por morrer pouco depois, a 5 de Setembro. Recuperamos sons históricos, a propósito da canonização de Madre Teresa de Calcutá, este domingo, no Vaticano.

Este domingo, pode ver em directo a canonização de Madre Teresa de Calcutá no site da Renascença, a partir das 9h30. Na rádio, há um programa “Porta Aberta” especial com Óscar Daniel, a vaticanista Aura Miguel e convidados.



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"Os povos do mundo devem unir-se no combate à pobreza". Foi a mensagem que Madre Teresa de Calcutá deixou em entrevista à Renascença. É pouco mais de um minuto de conversa em que ouvimos a voz da religiosa a quem foi atribuído o Nobel da Paz em 1979, conhecida como a "mãe dos pobres".

A 13 de Agosto de 1997, em vésperas e a propósito do 50.º aniversário de independência da Índia, e pouco menos de um mês antes de morrer, Madre Teresa agradeceu o apoio que sempre recebeu para ajudar os mais pobres.

Ouça o áudio original, na íntegra, e leia a tradução.

A Índia celebra 50 anos de independência, que significado tem para si?

Estamos a rezar e a pedir a Deus que nos abençoe e ajude a todos para trabalharmos pela glória de Deus e pelo bem do nosso povo.

Sente-se melhor de saúde?

Sim, graças a Deus.

O que espera de futuro da sua missão?

Continuará até que Deus queira.

O que deveria o mundo fazer para acabar com a pobreza?

Não sei. Eu tenho sempre muito para fazer com as pessoas pobres.

Tem algum conselho para as pessoas e para os governantes do mundo?

Envolverem-se no nosso trabalho para ajudar os pobres.

Mas há uma forma adequada de o fazer?

Todos me ajudam. As pessoas, os governos todos. Todos me têm ajudado a ajudar os outros. Por isso, continuem a rezar por mim.


Foi em 1948, um ano depois da Índia se ter tornado independente, que Madre Teresa de Calcutá fundou a Ordem das Missionárias da Caridade. Uma missão que tem já nos anos 90 contava com mais de quatro mil religiosas e dirigia mais de meio milhar de orfanatos e centros de caridade em todo o mundo.

Lisboa, "maravilhosa cidade" onde todos "se sintam amados"

Madre Teresa de Calcutá passou por Portugal por duas vezes, nos anos 80, para visitar as missões da sua congregação, que então começava a desenvolver trabalho em Portugal. Este é o registo áudio de um dos encontros com a religiosa, em 1985, em Chelas.

"Pedimos que nesta maravilhosa cidade de Lisboa, nenhum homem, nenhuma mulher, nenhuma criança se sinta não amado e não querido. Se encontrarem alguém que se sinta assim, por favor tragam-nos aqui às irmãs. Esta casa é a casa de todos nós. Onde todos nós vamos por o nosso amor por Jesus numa acção de vida."

Numa das passagens por Portugal, Madre Teresa visitou também o Santuário de Fátima. Referia-se a Nossa Senhora de Fátima como "mãe deste maravilhoso país".

"Família reza junta, fica junta. Se ficardes juntos, amar-vos-ei uns aos outros, como Deus vos ama. Por isso vamos ensinar as crianças a rezar e vamos rezar com elas.

E Nossa Senhora de Fátima, a mãe deste maravilhoso país, muitas e muitas vezes nos pediu que rezássemos o terço. Nunca deixeis os vossos filhos, ou vocês próprios, deitarem-se sem rezar o terço.

E assim agradecemos a Nossa Senhora por ter vindo ao nosso encontro aqui em Fátima e ter trazido o seu amor e a sua ternura a todos nós. Vamos rezar a Nossa Senhora pela paz. Há tanto sofrimento no mundo hoje. Vamos rezar pelos nossos povos. Há muitos lugares onde as pessoas estão a morrer de fome."

A missionária haveria de repetir os pedidos de oração e prometer rezar pelos portugueses.

"Deus tem-nos abençoado com muitas vocações, mas eu preciso de muitas, muitas mais. Rezem por nós para que possamos continuar o trabalho de Deus com muito amor. Eu hei-de rezar por vocês. Para que possam crescer em santidade através do amor de uns pelos outros. E lembrem-se que os trabalhos de amor são trabalhos de paz."

Teresa de Calcutá morreu a 5 de Setembro de 1997, aos 87 anos, depois de uma vida dedicada aos mais pobres dos pobres. Em 2003 foi beatificada por João Paulo II. No final de 2015, o Papa Francisco reconheceu o milagre que a confirma como santa – a "cura extraordinária" de um homem brasileiro que, em 2008, se encontrava em fase terminal por graves problemas cerebrais.

A cerimónia de canonização, no próximo domingo, 4 de Setembro, pode ser acompanhada nas várias plataformas da Renascença.