A habitação é uma das prioridades do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) e tem sido uma das bandeiras dos discursos do PS no período de campanha oficial das autárquicas e esta quinta-feira não foi exceção, quer em Lisboa quer em Faro, os dois concelhos onde António Costa marcou presença esta quinta-feira como secretário-geral do partido.
Ao lado de Medina, em Lisboa, na apresentação da comissão de honra do recandidato à Câmara, Costa colocou à cabeça das prioridades do autarca a "habitação acessível", a que, precisamente, o PRR pode dar resposta através das "verbas complementares" colocadas" à disposição de todos os municípios".
Essas verbas são as que Costa aconselha que sejam "mesmo aproveitadas por todos os municípios", elogiando Fernando Medina por definir como "prioridade a aposta na criação de arrendamento acessível para a classe média e em particular para as novas gerações", concluindo que "esse dinheiro não vai ser mal empregue, vai ser mesmo empregue para o que é necessário fazer que é habitação acessível para as jovens gerações".
Habitação e classe média
O PS virou o discurso para esse centro onde tradicionalmente se ganham eleições. Já na quarta-feira, em Coimbra, Costa tinha feito a síntese desta ideia com o adágio popular "quem casa quer casinha". E Fernando Medina a seguir a mesma linha de conversa.
No Páteo da Galé, em pleno Terreiro do Paço, em Lisboa, falou para essa fatia social, chamando-a no plural, as "classes médias", onde colocou os considerados heróis da pandemia, os "enfermeiros, professores, técnicos da informática, os técnicos da proteção civil" ou os "bombeiros e a polícia", agradecendo a todos eles, mas concluindo que o "agradecimento não fica completo se não se for capaz de lhes assegurar aquilo que é fundamental, o acesso a uma habitação digna".
O autarca reforçou a ideia dizendo que "é uma novidade para muitos, são precisamente esses os nossos trabalhadores da classe média, é essa verdadeiramente a classe média em Portugal, aqueles que vivem do seu trabalho , que vivem do seu rendimento, que precisam de ter uma política de habitação pública num momento em que no mercado não se encontram casas aos preços que as pessoas possam pagar".
De Lisboa a Faro num saltinho e mais habitação
A acção de campanha de Costa em Lisboa terminou já em cima das 20h30 e perto das 22h00 já estava em Faro para dar uma ajuda ao candidato à autarquia, João Marques e alinhavar umas ideias sobre a habitação acessível no Algarve, região onde o PS tem a maioria das câmaras, mas não tem a presidência da capital de distrito que está entregue ao PSD desde 2009.
E lá veio o discurso do líder socialista à volta do papel "essencial dos municípios" na aplicação do PRR, "desde logo a habitação acessível é absolutamente essencial, porque o Algarve paga um preço altíssimo pela inflação que o turismo introduz no custo da habitação".
A isto acresce, segundo o líder socialista, "uma das grandes dificuldades que há de atrair para o Algarve quadros, seja na área da saúde, seja na área do ensino, é um preço muito avultado que esses profissionais têm de pagar aqui nesta região".
E não só esses, mas também "aqueles que cá vivem, são os filhos desta terra, têm direito a ter uma habitação acessível e não pagar o preço do turista, porque não são turistas na sua própria terra".
Já antes o candidato do PS à câmara de Faro, João Marques, tinha falado das dificuldades da habitação, mas em contexto de bairro social, lamentando que "durante doze anos [tempo de gestão do PSD na câmara de Faro] não houve uma única manutenção de um bairro social, não houve uma única porta arranjada, não houve uma única campaínha, não há o mínimo controlo naquilo que são os agregados inseridos nas habitações sociais, criando diferenciações e problemas nos bairros sociais", garantindo que "com o PS isso não vai voltar a acontecer", prometendo "habitação social a sério, com critérios".
E as referências às dificuldades de habitação no Algarve não ficaram por aqui. O líder da distrital, Luís Graça, em mais uma carga de ombros ao PSD, salientou que o "governo do PS fez da habitação uma prioridade", mas ressalvando que Vila Real de Santo António, Castro Marim, Monchique "não têm uma estratégia local de habitação", notando que o que "têm em comum estas três câmaras é serem do PSD".
As críticas estenderam-se então à autarquia de Faro em que o "presidente de câmara diz que o problema se vai resolver com os construtores civis a fazerem mais urbanizações", o que Luís Graça rejeita concluindo que o problema da habitação "só se resolve com a intervenção pública do governo e das câmaras municipais, não se resolvem com mais negócios da construção civil".