Têm sido levantadas algumas dúvidas sobre o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), pois há quem afirme que está muito ligado ao investimento público. Que expectativas tem sobre o verdadeiro impacto que terá nas empresas? E, já agora, no seu entender, basta aplicar o PRR para que a economia recupere ou será necessário algo mais?
O Plano de Recuperação e Resiliência vai ser decisivo em termos do investimento em Portugal. Para este ano de 2021 e de 2022, de acordo com todas as projeções das entidades nacionais e internacionais, vamos ter crescimentos significativos do Produto Interno Bruto (PIB), da ordem dos quatro, cinco pontos percentuais. Vamos ter o investimento a crescer acima disso e, depois, teremos desejavelmente os efeitos do PRR, que através do investimento dará uma continuidade a este crescimento do PIB. Relativamente à distribuição do PRR, essa questão já foi muito discutida, mas eu penso que, neste momento, o importante é o plano ser executado, avaliado, estimado e divulgados os retornos esperados de cada investimento, o que ainda não foi feito. Deve ser devidamente monitorizado e, a partir daí, corrigir o que houver para ser corrigido. Penso que temos de falar, sobretudo, é da execução do plano e é nesta parte que temos de nos concentrar de momento. Vamos executar o que o PRR tem de bom, vamos corrigir o que haja a corrigir, mas, sobretudo, divulgar com transparência quais são os efeitos esperados.
Neste encontro manifestou alguma preocupação com o fim das moratórias e as suas consequências para alguns sectores como, por exemplo, a restauração e os alojamentos, com uma lenta recuperação. De que forma é possível apoiar mais este sector tão importante para o turismo?
Nós fizemos um inquérito à generalidade dos nossos clientes, nomeadamente aos dos setores mais afetados, como o turismo, a restauração, as agências de viagens - também fizemos com os particulares – para saber quais os clientes que precisavam de reestruturação ou de apoio. Tivemos vários pedidos de reestruturação, designadamente de particulares que já atendemos. Tivemos, também, algumas empresas que nos sinalizaram que precisariam de apoios adicionais e com quem estamos a falar para saber como pode isso ser feito. Aliás, também, está prevista uma garantia adicional do Estado, precisamente para os setores mais afetados no fim das moratórias, agora que, de uma vez por todas, já se sabe que estas moratórias não serão prolongadas. Em resumo, estes setores poderão ser apoiados, têm garantias adicionais, e estes setores precisam, agora, de ser complementados em termos dos capitais próprios dessas empresas, com outro plano, também, que já foi divulgado pelo Governo e que se espera, venha a ser efetivado. Penso que os planos que estão previstos são positivos, agora é preciso serem divulgados, em concreto, muito rapidamente. O plano de apoio ao final das moratórias já foi divulgado, já se conhecem as grandes linhas, mas ainda não está totalmente delineado e isso é urgente, da mesma maneira que é urgente conhecer e divulgar os termos dos planos de recapitalização, para que as empresas possam planear o recurso a esses mecanismos que são tão importantes. A questão, neste momento, não é apenas de acesso a financiamento, pois nunca o financiamento foi tão baixo na história dos gestores, dos empresários e das nossas vidas, mas também como podem recorrer e melhorar as medidas de apoio aos capitais próprios.
Há uma outra questão a equacionar neste período de retoma. Falo das taxas de juro que, afirmou, podem manter-se baixas até, pelo menos, 2024/2025. Este fator é importante para que, particulares ou empresas, possam contar com alguma estabilidade quando decidem pedir um crédito, seja para habitação, seja para a sua empresa?
Os particulares têm os custos financeiros mais baixos da sua vida. Nunca ninguém que teve um crédito à habitação pagou tão pouco por isso. As pessoas não só têm uma prestação de crédito tão baixa como nunca não houve no passado, como têm uma prestação cujo valor vai, sobretudo, para a amortização da casa. Isto permite que muito mais depressa possam ter a sua casa amortizada e pagar um valor mínimo de juros. Por outro lado, sabem que de acordo com as previsões do Banco Central Europeu, da União Europeia e do próprio Banco de Portugal, as taxas de juro, os indexantes, vão continuar com valores negativos durante os próximos anos. São, portanto, boas notícias para os consumidores e também são boas notícias para as empresas que querem investir.
Outra constatação que fez é que nunca houve tanta poupança como neste último ano. Disse, aliás, que na instituição a que preside, entraram nos últimos 12 meses, seis biliões de euros. Assim sendo, como é que isso pode ou vai beneficiar, na prática, o apoio aos clientes particulares e empresariais?
A poupança é essencial para um país poder desenvolver-se e investir. Portanto, um país tem que ter poupança a prazo para poder suportar os seus investimentos e, nesse sentido, é positivo. De qualquer maneira, nós tivemos uma grande retração no consumo, logo, é natural e desejável que uma parte dessa poupança seja canalizada para consumo e outra parte seja canalizada para investimento, uma vez que há condições bastante propícias, quer em termos de taxas de juro, em termos de perspetivas económicas ou em termos do sentimento dos consumidores e dos empresários, sendo sinais muitos positivos para levar as empresas a investir.
Voltando ao fim das moratórias, mas tendo em linha de conta as suas perspetivas e projeções de crescimento, como gestor, mas também como alguém que é reconhecido pelos portugueses pela sua capacidade de executar tarefas difíceis, que conselhos deixaria para este período de pós-pandemia?
Nós temos sinais bastante mais positivos que há um ano. Temos, também, dados concretos, como o nível de taxas de juro. Recordo que, quando saímos da anterior crise, as pessoas pagavam taxas de juro pela sua habitação de cerca de 4% e hoje pagam 1% ou menos e há pessoas que pagam taxas negativas. Portanto, temos sinais concretos para as pessoas que estão a sair das moratórias, embora saibamos que muitas vão ter dificuldades.
No entanto, não nos parece que o final das moratórias vá trazer um problema grave ao país e aos bancos, que era um dos receios, mas claro que não vamos ignorar que há famílias que precisam de ser apoiadas e há empresas que vão ter muitas dificuldades e precisam de apoio. Não vale a pena estar a apoiar empresas - e isso é unanime na sociedade - que não tenham viabilidade económica. Vale a pena apoiar aquelas que têm problemas financeiros. O final das moratórias trará problemas, mas entendemos que são problemas geríveis. De qualquer forma, no nosso caso, tentamos antecipar essa situação e, como lhe disse, falamos com particulares e empresas antes do fim das moratórias. O conselho que eu deixo é que quem estiver com dificuldades em cumprir, deve falar com os bancos e estes, sempre numa perspetiva de rigor, virados para o futuro, devem encontrar soluções para os seus clientes...