Como podemos ser tão precipitados? Como podemos ser tão leves em situações cruciais?
Estas perguntas surgem-me depois das reações à nota pastoral publicada pelo Cardeal Patriarca, D. Manuel Clemente, no site da diocese de Lisboa.
Neste momento, não me interessam as razões de conteúdo, mas sim o que foi escrito e o processo de interpretação.
D. Manuel Clemente, além de bispo, é um intelectual que sabe utilizar a escrita para expressar o seu pensamento. Creio que estando todos de acordo com esta afirmação, e se todos lemos a sua nota, a pergunta é legitima: em que é diferente a nota do Patriarca de Lisboa da proposta do Papa Francisco?
É possível ler apenas o ponto cinco da sua nota, esquecendo todo o contexto que o acompanha (e não me refiro apenas às citações de Joao Paulo II e Bento XVI), mas esse seria um erro grave, ainda para mais para jornalistas e comentadores. Lendo toda a nota, a interpretação que tem vindo a ser feita é possível?
O ponto central da polémica é a vida em continência. Diz D. Manuel algo que o Papa não tenha dito, através da encíclica Amoris Laetitia e da correspondência que manteve com os Bispos da Região Pastoral de Buenos Aires? Pergunto: na nota, é este o único caminho proposto?
Não, não é. Mas numa narrativa rápida, por vezes, elege-se um “bom” e um “mau”, de forma a ser-se mais eficaz na comunicação e a dar-se mais força à argumentação, sendo que o “bom”, para os que recorrem a esta narrativa, é o Papa Francisco, que abre uma regra, e o “mau” é D. Manuel Clemente que restringe essa mesma regra.
Mas nestes temas a simplicidade é inimiga da verdade. Basta ler os documentos.
O que penso sobre todo este assunto, não interessa. O ponto destas poucas linhas é assinalar como tão facilmente se entra em argumentos bipolares que restringem a verdade e tão facilmente se apontam “pecados” a um homem que se chama Manuel Clemente, sejam os autores da acusação jornalistas ou teólogos.