O empresário Carlos Santos Silva, arguido na Operação Marquês, disse esta quinta-feira em tribunal que o cofre com 200 mil euros alugado em nome do seu advogado e também arguido, Gonçalo Trindade Ferreira, era seu, disse à agência Lusa fonte ligada ao processo.
O amigo do antigo primeiro-ministro José Sócrates e que o Ministério Público crê ter sido "testa de ferro" do ex-governante em vários milhões de euros, explicou no interrogatório da fase de instrução que os 200 mil euros em dinheiro serviam facilitar negócios no estrangeiro.
Segundo o Ministério Público (MP), a partir de 2014 tanto Sócrates como Santos Silva redobraram os cuidados nas transferências de dinheiro e isso refletiu-se no uso de cofres, nomeadamente um alugado em nome do advogado Trindade Ferreira numa agência do Millenium BCP e no qual as autoridades encontraram 200 mil euros.
No segundo de três dias de interrogatório, que durou cerca de seis horas, o engenheiro da Covilhã disse ainda que não conhecia o banqueiro Ricardo Salgado, também arguido no processo, e insistiu que a casa de Paris, onde José Sócrates viveu dois anos para estudar, lhe pertencia e que tinha emprestado ao amigo.
Entende a acusação que, através do Grupo Espírito Santo e por determinação de Ricardo Salgado, em 2010 e 2011, Santos Silva "terá montado um esquema, em conjunto com Joaquim Barroca e Helder Bataglia, com vista à atribuição de nova quantia a favor de Sócrates".
Este esquema passava, acrescenta, "pela produção de um contrato promessa de compra e venda de um edifício em Angola".
A fonte disse ainda que Carlos Santos Silva confirmou que conhece muito bem José Paulo Pinto de Sousa [primo de José Sócrates e também arguido] e que chegou a fazer negócios com ele.
Nem Carlos Santos Silva nem a sua advogada Paula Lourenço prestarem declarações aos jornalistas.
Para o Ministério Público, Carlos Santos Silva foi "testa-de-ferro" de Sócrates e colocou nas suas contas bancárias, nomeadamente na Suíça, dinheiro do antigo primeiro-ministro a quem depois devolvia em parcelas e em numerário.
O empresário é acusado por 33 crimes: corrupção passiva e ativa, branqueamento de capitais (17 crimes), falsificação de documentos (10), fraude fiscal e fraude fiscal qualificada (3).
A Operação Marquês teve início a 19 de julho de 2013 e terminou com a acusação de 28 arguidos - 19 pessoas e nove empresas - pela prática de quase duas centenas de crimes económico-financeiros, entre os quais corrupção.