O banco central fará, em junho, um corte das taxas de juro se a evolução dos dados continuar a mostrar uma melhoria da inflação. Quem o diz é o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE). "Temos sido muito claros no que respeita à política monetária. Se as coisas continuarem a evoluir como ultimamente, em junho estaremos preparados para reduzir as restrições da política monetária", disse Luis de Guindos, esta quinta-feira, em audição da Comissão de Assuntos Económicos do Parlamento Europeu.
A inflação, recordou Guindos, tem descido e as projeções do BCE perspetivam que mantenha essa trajetória, ainda que a um ritmo mais moderado, mas o suficiente para, em 2025, chegar à meta de 2%.
No entanto, o vice-presidente do BCE reconheceu que existem alguns riscos que podem influenciar a evolução dos preços, incluindo a evolução dos salários, da produtividade, dos custos unitários do trabalho, das margens de lucro e os riscos geopolíticos.
O antigo ministro da Economia de Espanha disse que os atuais níveis de taxas de juro são importante contributo ao processo de desinflação e que a política monetária continuará restritiva o tempo que seja necessário. Na semana passada, a presidente do BCE, Christine Lagarde, já abriu a porta a um corte das taxas na próxima reunião do BCE, em junho.
Em março, a inflação da zona euro foi de 2,4%, abaixo dos 2,6% de fevereiro.
Esta quarta-feira, em entrevista à CNBC, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, considerou que, perante as atuais circunstâncias, o BCE tem condições para avançar com vários cortes nas taxas de juro este ano, incluindo já em junho.
A semana passada, o BCE manteve as taxas de juro pela quinta vez consecutiva. A taxa de depósitos ficou em 4%, o nível mais alto registado desde o lançamento da moeda única em 1999, a principal taxa de juro de refinanciamento em 4,5% e a taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez em 4,75%.
Em julho de 2022, o BCE iniciou o ciclo de subidas das taxas de juro com o objetivo de controlar a inflação. Mais de um ano depois, em outubro de 2023, fez a primeira pausa nesse rápido ciclo de subidas, mas logo avisou que um corte nos juros ainda ia demorar devido aos riscos inflacionistas.
Posteriormente, os mercados passaram a perspetivar o primeiro corte para abril deste ano. Contudo, a evolução dos dados fez com que o BCE decidisse ser cauteloso e a semana passada ainda manteve as taxas, sendo que agora é para junho que se perspetiva o primeiro corte (o primeiro corte dos juros do BCE desde setembro de 2019 quando baixou a taxa dos depósitos).
Quando o BCE altera as taxas de juro diretoras, tal reflete-se no conjunto da economia, sendo algumas das faces mais visíveis o aumento do preço dos empréstimos bancários, desde logo do crédito à habitação.