Os líderes da Alemanha e da China concordaram esta sexta-feira, durante um encontro em Pequim, que as ameaças russas de usar armas nucleares na Ucrânia são "irresponsáveis e extremamente perigosas".
O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse que o líder chinês, Xi Jinping, concordou que a utilização de armas nucleares na Ucrânia "cruzaria uma linha que a comunidade internacional traçou conjuntamente".
"O presidente Xi e eu concordamos que as ameaças nucleares são irresponsáveis e extremamente perigosas", afirmou Scholz em conferência de imprensa. "A guerra na Ucrânia cria uma situação perigosa para todo o mundo (...) e a China sabe também que uma escalada teria consequências para todos", acrescentou.
"Por isso, foi muito importante para mim enfatizar, dizer claramente, que uma escalada" do conflito "na forma do uso de uma arma nuclear tática está excluída, e estou muito feliz por, sobre este assunto, pelo menos, o lado chinês concordar", notou.
No primeiro encontro com Xi desde que assumiu o poder, no final do ano passado, Scholz disse que a China deve "usar a sua influência sobre a Rússia" para acabar com a guerra na Ucrânia.
"Como ator geopolítico e membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, a China é responsável pela paz no mundo", afirmou o chanceler. "Trata-se de cumprir com os princípios da carta da ONU, com a qual todos concordamos".
O presidente russo, Vladimir Putin, ameaçou repetidamente sobre o uso de armas nucleares, numa altura em que enfrenta dificuldades na sua ofensiva de oito meses na Ucrânia.
Semanas antes de a Rússia invadir a Ucrânia, em 4 de fevereiro, Xi Jinping recebeu Vladimir Putin, em Pequim. Os dois líderes anunciaram então uma parceria "sem limites".
O país asiático recusou condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia e criticou a imposição de sanções contra Moscovo. Pequim considera a parceria com o país vizinho fundamental para contrapor a ordem democrática liberal, liderada pelos Estados Unidos.
Embora o governo de Scholz tenha já sinalizado um afastamento da abordagem puramente comercial em relação à China, cultivada pela antecessora Angela Merkel, o chanceler alemão é acompanhado em Pequim por uma delegação empresarial, que inclui os presidentes executivos da Volkswagen, BioNtech ou Siemens.
Scholz foi recebido por Xi Jinping no Grande Palácio do Povo, no centro da capital chinesa.
O líder chinês destacou que a visita de Scholz coincide com o 50.º aniversário das relações diplomáticas, estabelecidas num período de feroz rivalidade, no auge da Guerra Fria, mas que permitiu cultivar o intercâmbio económico, que continua a ser uma parte fundamental da relação.
"A situação internacional atual é complexa e volátil", disse Xi a Scholz, citado pela emissora estatal CCTV, sem mencionar a guerra na Ucrânia. "Como potências influentes, a China e a Alemanha devem trabalhar em conjunto, nestes tempos de mudança e caos, visando contribuir mais para a paz e o desenvolvimento mundial", acrescentou.
Numa crítica velada aos Estados Unidos, Xi Jinping disse esperar que as relações União Europeia - China não sejam controladas por um "terceiro" elemento.
O líder alemão foi criticado por visitar a China logo após Xi, de 69 anos, obter um terceiro mandato como secretário-geral do Partido Comunista Chinês e elevar ao topo da estrutura do poder na China aliados que apoiam a sua visão de controlo mais rígido sobre a sociedade e a economia e uma abordagem mais conflituosa em relação ao Ocidente.
A deslocação surge também num contexto de crescentes tensões entre China e Taiwan e após um relatório da ONU ter considerado que os abusos contra minorias étnicas de origem muçulmana na região de Xinjiang, no noroeste da China, podem equivaler a "crimes contra a humanidade".