O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas, diz que “a Igreja não pode voltar atrás neste caminho” de combate aos abusos.
“Estamos a criar condições para que esse encontro seguro e transformador seja possível”, garantiu o bispo de Leiria-Fátima, na homília da Eucaristia pelas vítimas de abusos sexuais, de poder e consciência na Igreja, que decorreu esta quinta-feira na Basílica da Santíssima Trindade, em Fátima.
Sublinhando “a absoluta necessidade de se colocar ao lado de quem sofre esta devastadora realidade”, e falando “numa nova fase”, o presidente da CEP afirmou, neste Dia Nacional de Oração pelas Vítimas de Abusos, que “não se pode passar ao lado nem encobrir, por comodidade ou conivência”.
“Não se pode pactuar com situações e atitudes que comprometam, deste modo, a vida de pessoas inocentes. A 'tolerância zero', de que fala o Papa Francisco, exprime esse compromisso fundamental para com a vida e a justiça, em favor dos que foram iniquamente delas privados”, afirmou, na presença de mais 31 bispos.
Tal como no início da missa, D. José Ornelas reiterou, na homília, o pedido de perdão às vítimas. “Isso significa identificação e reconhecimento do mal que vos foi imposto, de forma injusta e abusiva e no ambiente onde menos deveria ter acontecido”, adiantou, sublinhando que “essa dor é também a nossa - a vossa dor - e continuará a doer enquanto a vossa não for curada”.
Tendo como ponto de partida a “forma atenta de olhar, para as crianças e para todos os que mais precisam de atenção, de carinho e de apoio” de Jesus, o prelado sublinhou a necessidade de apoiar os mais frágeis. “Quem não sente esse olhar no círculo próximo das suas relações; quem sofre injustiça, fome, miséria, abuso; precisa especialmente desse amor reparador para sarar feridas, para redescobrir o sol da existência verdadeiramente humana e o rosto paterno/materno de Deus".
Na homília, D. José Ornelas referiu, ainda, os autores destes crimes, dizendo que “também aqueles que causaram estes males precisam de ser libertados dessas atitudes que os despersonalizam”.
“A busca de clareza e de justiça deve incluir os que praticam o mal, pois a misericórdia de Deus é para todos”, frisou.
Logo no início da eucaristia, o bispo de Leiria-Fátima apresentou “um profundo, sincero e humilde pedido de perdão, em nome da Igreja”, a todos os que sofreram abusos sexuais, de poder e de consciência no seio da instituição, sublinhando que “estes comportamentos são exatamente o inverso daquilo que somos e que celebramos”.
“Assumimos que, em muitas ocasiões, não fomos capazes de tomar consciência e de velar como devíamos, para evitar estes abusos e para lidar com a gravidade das ofensas que foram feitas”, afirmou D. José Ornelas, sublinhando a “determinação de tudo fazer para que as pessoas que sofreram tão injustamente possam ter condições de superar os dramas que lhes foram infligidos, recuperar a estabilidade e a esperança na vida”.
O presidente da CEP assumiu, ainda, “a dor, a perturbação e a revolta dessas pessoas, tanto das que tiveram a coragem dolorosa de reagir e denunciar, como daquelas que se calam, ainda na incapacidade de falar dessa realidade que lhes barrou o caminho de uma vida mais feliz”.
“Como Igreja que somos assumimos a dor, a perturbação e a revolta dessas pessoas, tanto das que tiveram a coragem dolorosa de reagir e denunciar, como daquelas que se calam, ainda na incapacidade de falar dessa realidade que lhes barrou o caminho de uma vida mais feliz.”
Para a tarde desta quinta-feira, está marcada uma conferência de imprensa da Conferência Episcopal Portuguesa, na qual se espera que sejam divulgados detalhes da assembleia plenária.