O Parlamento aprovou esta quinta-feira dois votos de condenação, um da esquerda e outro do PSD/CDS-PP, contra a aplicação de sanções europeias a Portugal, o que levou o presidente da Assembleia da República a congratular-se com o "consenso".
A apresentação de dois votos de condenação foi o resultado da falta de acordo entre esquerda e direita. Os textos são idênticos, classificando como injustas as eventuais sanções por défice excessivo, mas há uma frase, incluída no voto do PSD e do CDS, que os distancia: "Face aos esforços e resultados de consolidação nominal e estrutural alcançados pelo país".
O voto apresentado pelo PS, Bloco de Esquerda, PCP, "Os
Verdes" e PAN (Pessoas Animais e Natureza) foi aprovado com os votos
favoráveis de toda a esquerda e a abstenção do PSD e do CDS-PP.
Já o voto do PSD e do CDS-PP teve também os votos favoráveis do PS e do PAN, mas registou votos contra do Bloco de Esquerda, PCP e "Os Verdes".
Após uma discussão muito dura entre as bancadas da esquerda e da direita parlamentar, com intervenções interrompidas por protestos de um e de outro lado, alguns deputados desde o CDS-PP ao Bloco de Esquerda acabaram a aplaudir as palavras proferidas pelo presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, após a votação dos dois documentos.
"No Parlamento há um consenso bastante verificável contra a aplicação de sanções a Portugal", concluiu Ferro Rodrigues, aludindo, depois, ao último parágrafo (comum) dos dois votos.
"A Assembleia da República, nos termos regimentais e constitucionais aplicáveis, pronuncia-se no sentido de considerar infundada, injusta, incompreensível e contraproducente uma eventual decisão da Comissão Europeia de propor sanções ao país por incumprimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento", lê-se nesse último parágrafo dos votos, quer da esquerda parlamentar, quer do PSD e CDS-PP.
O "bom" em vez do "óptimo"
O Presidente da República reagiu pouco depois, destacando que se alcançou o "bom" em vez do "óptimo".
"O consenso na substância, no conteúdo, está lá, na forma, não. Dizem o mesmo por palavras diferentes. É muito português", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, após dar início às cerimónias do Dia de Portugal, com o hastear da bandeira nacional no Terreiro do Paço, em Lisboa, e uma visita a uma exposição das Forças Armadas, na Ribeira das Naus.
O chefe de Estado recordou que "os portugueses costumam dizer que o bom é inimigo do óptimo": "Não tendo uma posição traduzida num texto único, mas se através de vários textos disseram o mesmo, é bom, embora não óptimo. Eu fico satisfeito, preferiria o óptimo, mas o bom já é bom".
"A mim, Presidente da República, e a nós, Portugal, o que interessava é que dissessem o mesmo. Se disserem o mesmo através de palavras diferentes, é bom. O que interessa é que lá fora se oiça que todos os partidos políticos pensam o mesmo, uns dizem de uma maneira, outros dizem de outra", argumentou.
Perante a insistência dos jornalistas, que o questionaram se a ausência de um texto comum não seria uma falha nos consensos por si pedidos, Marcelo disse que "é um passo". "Lá fora percebe-se que todos estão de acordo ao dizer-se não às sanções", declarou.
[Notícia actualizada às 13h23]