Espanha está a prejudicar Portugal na gestão do caudal do rio Tejo. A crítica é do autarca de Cedilho, localidade espanhola onde se situa a barragem que, no passado mês de setembro, debitou uma média diária de 14 milhões de metros cúbicos de água, como forma de garantir o cumprimento da convenção de albufeira.
O processo tem merecido críticas do lado português, mas também por parte dos responsáveis políticos espanhóis e a esse "coro" junta-se, agora, a voz do alcaide de Cedilho, António González Riscado.
Em declarações à Renascença, González Riscado aponta o dedo à atuação do Governo espanhol, que, diz, não cumpriu o acordo com Portugal na expectativa de preencher os requisitos para a declaração de seca, o quadro de exceção que desvincula os espanhóis do cumprimentos dos caudais mínimos e deixa, desse modo, o nosso país numa situação de enorme vulnerabilidade.
“Há uma gestão da água. Provavelmente, por causa da situação de seca, Espanha estaria à espera de uma declaração oficial. Mas esse alerta não foi declarado. E com quê que nos deparámos? Com o incumprimento da Convenção de Albufeira. Não tinham largado a água que tinham largado noutros anos em que tudo decorreu com normalidade sem afetar ninguém. Este ano tivemos esta cheia enorme. Para evitar esta situação, Portugal e Espanha devem negociar um aumento do caudal mínimo”, explica o alcaide.
“Se nesta altura estamos a falar de 200 hectómetros cúbicos, pois que suba até aos 500 e, dessa maneira, não chegaremos a esta situação limite em que, à última hora, se despeja esta quantidade enorme de água. Creio que essa será a solução mais razoável e mais lógica”, argumenta González Riscado.
No início do mês de novembro, ministro do Ambiente português pediu uma reunião urgente à sua homóloga espanhola para ter "resposta cabal" sobre como Espanha compensará o caudal do Tejo depois do quase esvaziamento da barragem de Cedillo.
No caso do rio Tejo a situação é particularmente preocupante. Desde a nascente até ao mar, o rio percorre mil quilómetros, mas só um quinto desse percurso é feito em território português, o que ajuda a explicar a excessiva dependência de Portugal das decisões que se tomam do lado de lá da fronteira.
Mas as queixas também se ouvem do lado espanhol, principalmente no que diz respeito aos afluentes partilhados pelos dois países.
González Riscado lembra que os rios Sever e Pônsul estão secos em algumas zonas e isso tem implicações negativas para o ambiente e para as atividades económicas, também do lado espanhol.
“Temos um barco turístico que todos os dias fazia viagens no rio. Desde que temos esta situação o barco está inoperacional. É um barco que costumava apanhar turistas aqui em Cedillo e uma das rotas tinha como destino a localidade de Lentiscais, do lado de Castelo Branco. Esse barco está parado no meio do Tejo e não pode navegar”, diz Riscado.
O autarca lembra ainda “a situação dos pescadores profissionais que estão sem acesso às águas, não só do rio Tejo, mas também dos dois afluentes (o Sever e o Ponsul) que estão vazios” (situação, no entanto, negada por Portugal).
“E temos o impacto no meio ambiente, com a vegetação das zonas ribeirinhas a ficar completamente seca devido à falta de água nestes afluentes”, lamenta também.