A crise deixou em situação de pobreza um em cada três dos portugueses, sendo as crianças de famílias grandes as que foram mais afectadas.
As conclusões surgem num estudo sobre a desigualdade em Portugal, apresentado esta segunda-feira em Lisboa. Segundo este trabalho, apoiado pela fundação Manuel Francisco dos Santos, entre 2009 e 2014 surgiram 116 mil novos pobres em Portugal, um em cada três portugueses viveram na pobreza pelo menos durante um ano.
Segundo o coordenador do Estudo, Carlos Farinha Rodrigues, não foi a classe média a mais afectada.
“A forma concreta como o Programa de Ajustamento em Portugal foi feito, foi em si mesmo muito desigual. E penalizou, essencialmente, as famílias mais desprotegidas”, diz.
“Enquanto os 10% mais pobres tiveram, entre 2009 e 2014 uma quebra nos seus rendimentos de quase 25%, as restantes famílias tiveram quebras muito menores, praticamente metade, 12 ou 13%. Portanto este processo de ajustamento foi extremamente penalizador para os mais pobres, mas foi também extremamente penalizador para alguns grupos sociais específicos.”
Contas feitas, quem perdeu mais com as políticas de austeridade aplicadas durante a crise foram precisamente as famílias numerosas.
“Se nós podemos dizer que grande parte da população perdeu, porque houve um processo de empobrecimento, de diminuição generalizada de rendimentos, houve alguns sectores que foram particularmente atingidos pela crise. E neste contexto ganha, na minha opinião, particular relevância as famílias alargadas, com crianças. Foram aquelas onde se registou maior agravamento da pobreza.”
O estudo, que contou ainda com o apoio do “Expresso” e da SIC, revela que uma em cada quatro crianças portuguesas estava em situação de pobreza em 2014. A crise atingiu ainda os jovens, os licenciados e os mais pobres entre os pobres.