À entrada da última semana de campanha - sobretudo depois de termos percebido que o assunto ‘Tancos’ deverá fazer-nos companhia até 6 de outubro - há um tema ao qual damos nota pública de sermos imunes: o populismo.
Desse ponto de vista, a coleta de sondagens que nos é apresentada em permanência pela Renascença parece trazer sinais tranquilizadores; as forças que assentam o grosso da sua mensagem em apelos populistas/demagógicos continuam confinada a franjas minoritárias.
Mesmo no caso de uma delas, a quem se reconhece admirável profissionalismo na gestão da sua presença online e até da exposição analógica em cartazes (acrescentando, assim, dano direto a um partido tradicional em queda livre, o CDS), estará distante de conseguir aceder à representação parlamentar.
E ainda bem, dir-se-á; ainda bem que ‘essas coisas’ não pegaram por cá como noutros países europeus. Ainda bem que o eleitorado nacional sabe rir-se... e seguir em frente.
Ora, segundo nos alerta o académico Yascha Mounk, que recentemente apresentou em Portugal o seu livro “Povo vs. Democracia”, essa leitura é arriscada. Numa entrevista ao Público disse: “Tenho a sensação de que as elites portuguesas estão a cometer o mesmo erro que já vimos acontecer no Reino Unido, na Alemanha, nos EUA, no Brasil, que é dizer: nós temos uma história diferente, estamos imunes, isso não vai acontecer aqui. Quando olhamos à nossa volta, há uma elevada probabilidade de que, mais cedo ou mais tarde, surja um partido populista”.
Se pensarmos na formatação clássica da campanha eleitoral a que temos direito - caravanas, comícios cheios de ‘convertidos’, argumentação política assente mais no confronto do que nas propostas - e se pensarmos nos níveis de abstenção (sobretudo entre os mais jovens), ficamos mais perto de entender a mensagem.
O populismo do qual dizemos estar distantes anda por aí, à solta, nas margens de uma sociedade com problemas concretos de desigualdades e com receios (fundados ou infundados) em torno de muitos processos de decisão política. E não desaparece só porque escolhemos não falar dele.