Entrevista a Catarina Martins. Bloco "quer contas certas", mexer no IRS e impõe condições para nova “Geringonça”
29-08-2019 - 21:20
 • Renascença

Líder bloquista prefere um acordo escrito, defende a necessidade de investimento nos serviços públicos com "contas certas" e quer taxar o Google e o Facebook que pagam menos impostos do que "a mercearia do bairro".

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O Bloco de Esquerda (BE) “quer contas certas”, defende Catarina Martins numa entrevista à TVI em que estabelece as condições para uma nova “Geringonça” com o Partido Socialista.

Catarina Martins começa por afirmar que "o Governo que tivermos vai depender do resultado eleitoral" e da força que os resultados derem ao seu partido.

Questionada se prefere um acordo escrito numa eventual reedição da “Geringonça”, a coordenadora do BE defende que “a clareza e a transparência é sempre amiga da democracia” e que o Bloco “fez bem em fazê-lo há quatro anos”.

"Os partidos não têm de ser iguais ou ter as mesmas ideias para perceber-se onde há maiorias, quais são as medidas que têm uma maioria e para isso é importante a clareza e a transparência para todo o país perceber."

Sobre as medidas sem as quais não está disposta a fazer um eventual acordo escrito com o PS, Catarina Martins definiu as suas metas e objetivos.

"Um Governo que seja capaz de uma legislação laboral que acabe com o abuso do trabalho temporário , que garante salários dignos, que respeite quem trabalhou toda uma vida e garante o acesso a pensão digna, um governo que seja capaz de ter um SNS eficaz de fazer o investimento que tem faltado ao país é um governo seguramente também do Bloco de Esquerda", elencou.

"BE nunca contou com o PS para nada"

A coordenadora do BE não descarta um acordo com o PS para formar Governo ou para garantir uma maioria parlamentar, mas recusa a ideia de querer chegar ao Governo à boleia do PS.

Nesta entrevista à TVI, Catarina Martins sublinhou que "o Bloco de Esquerda nunca contou com o Partido Socialista para nada" e referiu que, durante a atual legislatura, foram os socialistas tentaram quebrar o acordo por duas vezes: durante a crise dos professores e quando quiseram descer as contribuições das empresas para a Segurança Social.

Catarina Martins defende a necessidade de investimento nos serviços públicos, mas sublinha que "o Bloco quer contas certas e não acha bem um país ter um défice que não justifica".

"O problema é como é que nós fazemos a consolidação orçamental. Achamos que uma consolidação orçamental sustentada é aquela que se faz com crescimento económico, porque senão podemos ter um défice muito baixo, mas depois o comboio não funciona, o hospital não responde e, se calhar, o défice real é bem maior do que aquele que está mascarado nas contas, porque está lá o problema para ser resolvido", sublinha.

Escalões de IRS pré-Gaspar

A líder bloquista considera fundamental o país realizar "investimentos essenciais para que, com o crescimento da economia, se faça uma consolidação estruturada, sustenta das contas públicas e é isso que propomos para a próxima legislatura".

Questionada sobre como vai compensar o aumento da despesa no Orçamento do Estado, Catarina Martins propõe um "aumento ligeiro da derrama" sobre as grandes empresas, o adicional ao IMI para "grandes fortunas", o equivalente a património superior a 1 milhão de euros, e taxar as grandes empresas tecnológicas como a Google ou o Facebook, porque até "a mercearia do bairro paga mais impostos" do que essas multinacionais norte-americanas.

Catarina Martins também anunciou que pretende retomar os escalões de IRS que existiam "antes do grande aumento de impostos de Vítor Gaspar" e que os rendimentos sejam englobados, para que quem ganha mais pague mais impostos.

Questionada por uma professora de bioética sobre as questões de genéro, nomeadamente o despacho sobre alunos transgénero nos estabelecimentos de ensino, a líder do Bloco afirmou que "a escola de hoje é parecida com a do século XIX" e tem de mudar.

"O Bloco de Esquerda não propõe manuais alternativos em lado nenhum, o que nós propomos é que haja um debate sobre o que devem ser os currículos escolares, a própria escola. Estamos no século XXI com uma escola muito parecida com o século XIX e é normal que esse debate seja feito com toda a comunidade escolar e com toda a tranquilidade", defende Catarina Martins.

[notícia atualizada às 23h27]