Corria o ano de 2009 quando a crise acertou em cheio no país. A venda de bens ao exterior caiu mais de 18%, fruto da turbulência financeira que eclodiu em 2008. Dois anos antes, as exportações nacionais estavam em alta. Uma tendência que crescia desde 2001 e que se reflectiu na actividade do Porto de Leixões.
A recuperação deu-se já no início desta década. Hoje, 40% das mercadorias nacionais vendidas ao exterior passam por aqui. Só no ano passado movimentaram-se 18 milhões de toneladas, mais 5% do que em 2013.
A Europa do Norte continua a ser o principal destino, a diversificação de mercados motivada pela contracção económica colocou o continente africano na rota. Angola, Marrocos e Argélia vieram alterar o quadro habitual de um porto muito ligado "à Holanda, França, Bélgica e Reino Unido", explica Brogueira Dias, presidente da Administração dos Portos do Douro e Leixões.
Materiais de construção civil, indústria metalomecânica e bebidas são os principais produtos que saem de Leixões.
Se é verdade que o desempenho exportador registou um comportamento atípico no primeiro semestre deste ano, por causa da crise petrolífera em Angola, 2015 pode - ainda assim - fechar com novo recorde. "Se não chegarmos aos 19 milhões de toneladas movimentadas, devemos aproximar-nos", antecipa o presidente da APDL.
A crescente procura do Porto de Leixões como porta de saída de mercadorias, não só nacionais como também de várias empresas espanholas, obriga a projectar uma infra-estrutura ainda maior.
"O ideal seria que estivesse concluída em 2020, mas isso será impossível", lamenta Brogueira Dias, que não estende o prazo por muito mais tempo. "Lá para 2022 ou 2023 terá de estar operacional, senão o país deixa de dar resposta ao crescimento que se tem sentido e à procura dos portos, nomeadamente Leixões".
Crescimento, sim. Mas não para todos
“Boa tarde, ouvi dizer que estão a contratar pessoal". Dois jovens, com pouco mais de 20 anos, acabam de chegar a uma fábrica de metalomecânica em Ermesinde. Tinham acabado de nos perguntar onde ficava a recepção. São daqui da zona e procuram emprego.
O cenário nesta empresa é agora mais animador. O administrador garante que “tem resultados positivos”, mas não alinha na onda de entusiasmo oficial. Manuel Braga Lino ainda tem bem fresco na memória a quebra dos últimos anos. Numa empresa que exportava essencialmente para a Europa, a desaceleração da economia do velho continente provocou um trambolhão de mercadoria exportada. “Dos 70 para 50%”, uma quebra “entre um milhão e meio a dois milhões de euros em vendas”.
Ainda assim, a expectativa para o futuro próximo é de recuperação da carteira de clientes a níveis pré-crise. Manuel Braga Lino lamenta, contudo, a forma como as entidades oficiais subvalorizam o bom desempenho do sector da metalomecânica. E garante que números oficiais confirmam que "num mês, o nosso sector exporta mais do que o calçado num ano inteiro".