“O jornalismo não está em vias de extinção, mas os jornais em papel sim”. A reflexão é feita por um dos jornalistas mais antigos no ativo. José Carlos Vasconcelos tem 82 anos e há 42 que dirige o Jornal de Letras.
O jornalista que em 2022 foi agraciado com o grau de Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique por Marcelo Rebelo de Sousa defende no podcast Avenida da Liberdade que “tem de haver apoios” à imprensa, tal como há, diz para “o teatro, cinema e ópera”.
No seu entender, hoje tal como quando começou na imprensa aos 13 anos, na Póvoa de Varzim, “o jornalismo deve ser sobretudo responsabilidade social”. Fazendo um paralelismo com a política, Vasconcelos refere que “hoje no jornalismo há mau e bom jornalismo. Na política, desde a Constituinte, até hoje, a qualidade das pessoas tem baixado muito”.
Diz de si que é “um homem de esperança”, mas nesta entrevista ao podcast Avenida da Liberdade deixa um “apelo ao nível da política”, para “um pacto de decência”. José Carlos Vasconcelos defende que deve “haver maturidade e respeito pelos outros, e uma capacidade de sonho, mas realista”.
Percorrendo as memórias do período antes da Revolução dos Cravos, José Carlos Vasconcelos recorda a primeira coisa que fez depois de 25 de Abril de 1974. “No dia 26, vim para Lisboa, fui ao República para pedir para escrever, primeira vez, uma notícia em liberdade, sem censura”.
Tinha sido a censura que na década de 60 o tinha afastado da imprensa. Nessa altura deu uso à sua profissão de advogado. Formado em direito, pela Universidade de Coimbra, José Carlos Vasconcelos defendeu muitos amigos artistas e jornalistas em tempo de ditadura.
Ao podcast Avenida da Liberdade recorda o caso do seu amigo João Abel Manta que se viu abraços com o regime por causa dos seus cartoons. Caso diferente foi o seu. José Carlos Vasconcelos nunca foi interrogado pela PIDE ou preso pela polícia política, embora a sua atividade, sobretudo nos tempos estudantis em Coimbra andasse debaixo de olho.
Autor de poesia, Vasconcelos participou em diversos saraus de poesia, onde eram lidos poemas de intervenção. Recorda com saudade aqueles em que foi acompanhado pelo guitarrista Carlos Paredes. Nas suas memórias estão também sessões de canto com os amigos Zeca Afonso ou Adriano Correia de Oliveira. Um deles, em Peniche acabou interrompido pelo polícia.
Memórias percorridas no novo episódio do podcast Avenida da Liberdade já disponível nas plataformas habituais, como a da Renascença, Popcast.