"Não estou triste se morrer, mas porque não serei capaz de me vingar como queria". Este é um desabafo que o prisioneiro de Auschwitz Marcel Madjar escreveu, em 1944, numa carta encontrada em 1980, mas cujo conteúdo só agora, depois de concluído o restauro, foi divulgado.
A mensagem do judeu de origem grega estava dentro de uma garrafa térmica, numa floresta contígua ao campo de concentração de Auschwitz, e faz revelações impressionantes sobre a vida no campo nazi. “Sofremos aquilo que nenhum humano pode imaginar", escreve Madjar, de acordo com a estação "Deutsche Welle".
Madjar era recrutado, juntamente com outros prisioneiros, para o “Sonderkommando”, um grupo comandado pelos nazis que realizava tarefas que os alemães não queriam realizar, como enterrar corpos ou limpar as câmaras de gás.
"Debaixo de um jardim, há dois quartos subterrâneos no porão: um serve para despir os prisioneiros, o outro é uma câmara de morte. Depois de meia hora, tínhamos que abrir as portas e o nosso trabalho começava. Os corpos eram levados para os fornos dos crematórios, onde um ser humano ficava reduzido a 640 gramas de cinzas."
"Se lerem aquilo que fizemos, vão questionar como foi possível enterrar os nossos amigos judeus", escreve ainda Madjar. "Isso foi o que pensei ao início e penso muitas vezes."
Marcel Madjar sobreviveu ao campo de concentração e acabou por morrer nos Estados Unidos em 1971, aos 54 anos, sem nunca divulgar que tinha escrito esta carta.