“Impeachment” de Dilma aprovado na Câmara. Processo segue para ratificação no Senado
18-04-2016 - 06:55
 • João Almeida Moreira, em São Paulo

Por 367 votos a favor, mais 25 dos que os 342 necessários, a destituição da presidente foi aprovada e segue para a Câmara Alta do Congresso Nacional, que deve ratificar a decisão dia 11 de Maio. O vice-presidente Michel Temer já é o virtual presidente do Brasil.

A Câmara dos Deputados do Brasil votou favoravelmente o “impeachment” da presidente Dilma Rousseff por 367 votos a favor, mais 25 do que os 342, equivalente a dois terços dos 513 parlamentares, que eram necessários, nesta madrugada, em Brasília. Numa longa sessão que demorou quase 10 horas, ficou decidido enviar a decisão da queda de Dilma para o Senado Federal. A sessão decisiva está prevista para dia 11 de Maio.

Lá, bastará à oposição conseguir uma maioria simples dos votos dos 81 senadores para que a presidente caia e Michel Temer, o actual vice-presidente, assuma a direcção do Palácio do Planalto. Por agora, as primeiras sondagens aos senadores dão conta de que uma larga maioria de 47 votará pela destituição, apenas 20 defenderá o mandato de Dilma, estando os restantes indecisos. A confirmar-se, o “impeachment” prospera em definitivo.

Ou seja, o passo mais importante para a queda de Dilma, do Partido dos Trabalhadores (PT), está dado. É convicção da maioria dos observadores, da oposição e até do Governo que o Senado só ratificará a decisão tomada pela Câmara dos Deputados de fazer cair Dilma, 23 anos depois do então presidente Collor de Mello, ter sido destituído noutro processo de “impeachment”, e lançar Temer, do Partido do Movimento da Democracia Brasileira (PMDB), ex-aliado do Governo, para o mais alto cargo da nação.

Os trabalhos iniciaram-se sexta-feira antes das 9h00 e não foram interrompidos até às 23 horas de domingo, horas locais. Entre discursos acalorados, muitos cânticos e palavras de ordem, faixas e cartazes, só minutos antes do início da votação chegou a haver tumultos com empurrões entre oposicionistas e governistas sob o olhar de Eduardo Cunha, presidente da Câmara e, ele próprio, foco de tensão por ser investigado na Operação Lava-Jato.

À hora a que o deputado Bruno Araújo, do oposicionista Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), votou e atingiu os 342 votos necessários, por todo o Brasil os que desejavam a queda de Dilma festejaram com os tradicionais “panelaços” e foguetórios enquanto acompanhavam os detalhes da votação em directo pelas cadeias de televisão. Araújo foi até levado em ombros por colegas anti-Dilma.

Mas apesar de haver quase 100 manifestações no país contra e a favor do “impeachment”, não há registo, pelos menos por agora, de incidentes relevantes. Em cidades como Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, que tinham protestos anti-destituição e anti-Governo muito próximos, a segurança havia sido reforçada.

Dilma foi eleita em 2010, sucedendo a oito anos de governo de Lula da Silva, o seu padrinho político. Chegou a ter índices de popularidade muito elevados – 78%– durante o início do seu consulado, quando promoveu uma “limpeza ética”, demitindo sete ministros por corrupção.

A partir da Taça das Confederações de futebol, onde protestos contra o custo dos transportes em São Paulo ganharam repercussão nacional, a aprovação de Dilma começou a cair. Mas não o suficiente para a impedir de vencer, com 52% (54 milhões de votos) a eleição presidencial de 2014 à frente de Aécio Neves, candidato do PSDB. A partir do início do segundo mandato, o agravamento da crise económica para indicadores negativos recorde e uma guerra política feroz promovida pelo presidente da Câmara dos Deputados prejudicou Dilma.

A tudo isso, somou-se a Operação Lava-Jato que atingiu centenas de políticos e empresários, alguns deles do círculo muito próximo da presidente, entre os quais o próprio Lula.

A debandada do PMDB do Governo fragilizou o PT e a Presidente, terminando com o desenlace desta madrugada.