De vendas pela cláusula de rescisão está cheio não o FC Porto, mas sim a boca do presidente Pinto da Costa. A conclusão é de José Fernando Rio, que nas eleições de 2020 se bateu nas urnas contra o atual presidente portista, tendo acabado derrotado, apesar dos 26% de votos que obteve.
Ouvido por Bola Branca, a propósito da venda de Fábio Vieira ao Arsenal a troco de 40 milhões de euros (em que cinco milhões dependem de objetivos desportivos), José Fernando Rio lamenta a saída por um valor abaixo da cláusula de rescisão, embora não se mostre surpreendido.
“O administrador financeiro já tinha anunciado a necessidade de realizar entre 70 a 100 milhões de euros de mais-valias neste exercício e eu já estava à espera que a sangria começasse. Obviamente que temos de descontar os custos de intermediação. No Porto nunca sabemos se são altos ou baixos, mas normalmente até são bastante elevados”, comenta.
O ex-candidato à presidência lamenta duplamente a venda de Fábio Vieira, por ser "um jogador que se estava a afirmar e poderia ser uma peça importante em objetivos mais altos que o Porto diz ter", como a Liga dos Campeões, e porque "acaba por sair abaixo da cláusula de rescisão".
"O presidente Pinto da Costa tem enchido muito a boca com números, de que o Porto tem uma situação que permite negociar jogadores só pela cláusula de rescisão e vemos que isso não é verdade”, declara.
José Fernando Rio acredita que a novela da “sangria” no plantel portista terá continuidade em próximos episódios e admite que Vitinha, que tem sido apontado a vários colossos europeus, já tenha o destino definido.
“Acho que o jogador já está negociado há algum tempo”, diz Rio, complementando: “Vitinha vai sair, esse sim pela cláusula de rescisão."
"Seria um fracasso total para esta administração se não vendesse o Vitinha por 40 milhões. E depois, não sei quem é que se seguirá”, atira.
Receios por Sérgio Conceição
Vitinha e Fábio Vieira, ambos de 22 anos de idade, jogadores formados no FC Porto, foram campeões europeus na UEFA Youth League em 2019 e duas das figuras que esta época mais contribuíram para a dobradinha, materializada com as conquistas do campeonato e da Taça de Portugal.
Fábio Vieira está de saída. O mesmo deverá suceder com Vitinha. O que dirá o treinador Sérgio Conceição, que tanto fez para devolver ao FC Porto o estatuto de clube que nasceu para vencer?
“Imagino que neste momento o Sérgio Conceição esteja bastante irritado” admite José Fernando Rio, fazendo notar que o técnico portista “tem tornado público que nunca trabalhou nas condições ideais".
"Também tornou público que, agora que o Porto está fora da alçada da UEFA, poderia investir mais na competitividade da equipa; começa a ver os principais jogadores saírem. Temo que isto possa ter algum peso na sua vontade de permanecer ou de sair do clube”, considera.
Uma carapuça que serve a André Villas-Boas: sem Pinto da Costa na corrida haverá muitos candidatos
Adivinha-se dois anos intensos no FC Porto, no que respeita à sucessão de Pinto da Costa. Embora ainda não seja conhecida uma decisão definitiva, o histórico dirigente portista tem deixado sinais de que a sua reeleição em 2020 para o atual mandato, até 2024, terá sido a última.
André Villas Boas – por quem Pinto da Costa não morre de amores desde que este abdicou da “cadeira de sonho” no verão quente de 2011 – há muito que alimenta o sonho de ser presidente do clube.
O ex-treinador dos portistas deixou escapar nas redes sociais que tenciona ir a votos em 2024. José Fernando Rio, que há dois anos de bateu, olhos nos olhos, contra Pinto da Costa, reage com ironia.
“Agora que parece que Pinto da Costa não se vai recandidatar nas próximas eleições, vai aparecer muita gente a querer ser presidente do Porto. Vamos ver. O André Villas Boas tem todo o direito e todas as condições para se candidatar. É um sócio de reconhecidos méritos. Vamos ver qual é a sua proposta para o clube”, remata.