O Presidente da República criticou, acerca da nova política comercial norte-americana, a imposição de "regras só para alguns e de vez em quando", referindo que se deve "pensar duas vezes" em tomar "medidas unilaterais que atingem o aliado".
"Quando há regras que valem para todos e sempre, não é para valerem só para alguns e de vez em quando, senão não é possível haver regras no comércio internacional", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, no Porto, após ter sido questionado pelos jornalistas sobre a decisão dos Estados Unidos de suspender a isenção dos direitos de importação de aço e alumínio da União Europeia, do Canadá e do México.
Para o chefe de Estado, "quando alguém é aliado de alguém deve pensar duas vezes quando toma medidas unilaterais que atingem o aliado", porque, "mesmo quando se é muito forte, há de aparecer um dia na vida em que se precisa desse aliado".
"E é mau se antes se não tratou devidamente o aliado", afirmou Marcelo, depois de jantar com sem-abrigo na Associação dos Albergues Noturnos do Porto (AANP).
O Presidente da República disse ainda concordar com as declarações feitas sobre o assunto pelo primeiro-ministro português, António Costa, e pela chanceler alemã, Angela Merkel, que terminou hoje o segundo dia de visita a Portugal, ainda antes de ser conhecida a decisão.
"A Europa está, estará e ficará unida perante desafios como esse", vincou.
O Departamento do Comércio norte-americano suspendeu hoje a isenção dos direitos de importação de aço e alumínio da União Europeia, do Canadá e do México, numa decisão que dispara as tensões comerciais e provocará represálias dos parceiros.
"Decidimos não estender a exceção para a União Europeia, Canadá e México, pelo que estarão sujeitos a tarifas de 25% e 10%" na importação de aço e alumínio", respetivamente, indicou o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, antes de terminar o prazo para a tomada de uma decisão sobre o assunto.
A União Europeia anunciou entretanto que vai denunciar perante a Organização Mundial do Comércio (OMC) a decisão norte-americana de suspender a isenção dos direitos de importação de aço e alumínio e garantiu que irá responder de forma "proporcional".
"Os Estados Unidos não nos deixam agora outra escolha que não seja a de recorrer à resolução de litígios da OMC e à imposição de tarifas adicionais sobre diversas importações dos EUA. Vamos defender os interesses da União em total cumprimento da lei comercial internacional", declarou o presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker.
Angela Merkel considerou "ilegais" as taxas aduaneiras decididas pela administração norte-americana liderada pelo Presidente Donald Trump, advertindo ainda para o risco de uma escalada.
Do lado de Paris, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Baptiste Lemoyne, qualificou as taxas norte-americanas como "injustificáveis e insustentáveis" e pediu a Bruxelas para responder com medidas preventivas e de "reequilíbrio".
Também o Reino Unido reagiu e declarou estar "profundamente dececionado" com a decisão norte-americana.
"O Reino Unido e outros países da União Europeia [UE] são aliados próximos dos Estados Unidos e deviam estar total e permanentemente isentos das medidas norte-americanas sobre o aço e o alumínio", disse o porta-voz do Governo britânico.
O presidente do Parlamento Europeu, o italiano Antonio Tajani, manifestou-se "dececionado", referindo que a UE vai responder com "todas as ferramentas" à sua disposição.
"Apoiamos os nossos trabalhadores e a indústria europeia e vamos responder com todas as ferramentas disponíveis para defender os nossos interesses", escreveu Tajani, numa mensagem na rede social Twitter.