É cada vez maior, a pressão sobre o serviço de cirurgia do Hospital de São João, no Porto - que desde o início do mês passou a receber doentes de seis hospitais da zona Norte, onde os médicos recusam fazer mais horas extraordinárias do que as previstas.
À Renascença, a presidente do Conselho de Administração do Hospital de São João, Maria João Batista, revela que as equipas garantem o serviço de urgência no horário habitual, mas agora com uma atividade muito maior do que é comum.
“Estas equipas estão asseguradas, mas com uma atividade muito maior do que é comum, atendendo ao facto que estamos a receber doentes para cirurgia de todos os outros hospitais sem atividade cirúrgica para o doente urgente grave”, revela.
Neste momento, até situações “triviais” em termos de cirurgia, que podiam ser operadas nos hospitais de origem, são encaminhadas para o São João. E muitos destes doentes podem ficar numa situação mais frágil do que seria habitual.
“Também nos acresce pressão o facto de termos muitos destes doentes com situações mais arrastadas do que era o habitual. O facto de não serem intervencionados no hospital de origem e se tiverem indicação cirúrgica, o doente pode estar a ser operado mais tarde do que seria o habitual, colocando-o numa situação mais frágil do que o seria habitual para determinado tipo de patologia. E isto faz mais uma vez com que as equipas estejam assoberbadas com trabalho assistencial”, acrescenta.
Pressão aumenta a cada dia
Nestas declarações à Renascença, a presidente do Conselho de Administração do Hospital de São João alerta que se a pressão na urgência se mantiver, a atividade de rotina - que já foi reduzida - terá de diminuir ainda mais para conseguir responder à urgência.
“Mantendo-se esta situação, antevemos que haja cada vez mais necessidade de recorrer à diminuição da atividade de rotina para responder à atividade de urgência. Isto é verdade nas áreas cirúrgicas, mas também em áreas de apoio a todo o internamento do hospital e ao serviço de urgência, como a medicina interna”, especifica.
A pressão aumentou também desde quarta-feira, dia em que o Hospital de São João começou a receber as grávidas acompanhadas no Hospital Tâmega e Sousa, cuja urgência de obstetrícia encerrou.
“Isto causa uma grande pressão na capacidade de resposta a estas situações, porque implica um volume para uma equipa que não está dimensionada para esta quantidade de partos que são habitualmente realizados no Hospital de Tâmega e Sousa”, admite.
“Ninguém pode ficar para trás”
Face às necessidades, os blocos de urgência do São João estão a funcionar 24 sobre 24 horas, ininterruptamente. Maria João Batista diz que ninguém pode ficar para trás, esperando conseguir dar resposta às urgências durante este mês de novembro.
“O doente urgente grave tem de ter prioridade. Ninguém pode morrer neste processo. Temos de dar resposta ao doente grave”, defende.
Segundo a Presidente do Conselho de Administração do Hospital de São João, as dúvidas residem na manutenção da capacidade em dezembro, na especialidade de obstetrícia.
“O que previmos é que a nossa capacidade de dar resposta ao doente agudo grave se mantenham durante o mês de novembro. Tenho, contudo, algumas questões em relação à nossa capacidade de resposta em obstetrícia em dezembro, por indisponibilidade dos nossos médicos em manterem serviço de urgência extraordinário. Aí antevejo alguma dificuldade. Tudo isto tem de ser baseado na hipótese de, progressivamente, diminuir a atividade de rotina”, refere.