Canadiana Renée Gagnon exibe fotografias pintadas de antas europeias
16-07-2021 - 13:16
 • Rosário Silva

O trabalho da artista canadiana Renée Gagnon focou-se “em monumentos relativamente anónimos”, mas “imponentes”, em áreas tão distintas, como a Bretanha, Holanda, Portugal e Irlanda.

O Centro de Arte e Cultura (CAC) da Fundação Eugénio de Almeida (FEA), em Évora, apresenta a partir deste sábado, dia 17, a exposição “Santuários”, de Renée Gagnon.

Trata-se de uma exposição de fotografias de grande formato, que representam antas irlandesas, bretãs, holandesas e portuguesas. “Sobre cada fotografia – que edita e prepara com transformações por vezes subtis – a artista usa com gestos precisos guache, lápis, aguarela”, revela a nota do CAC enviada à Renascença.

Diante das fotografias de antas realizadas, “num corpus não exaustivo de 21 peças”, Renée Gagnon, nascida em Montreal (Canadá), mas viver e a trabalhar em Portugal há várias décadas, “transforma, aprofunda, inventa e clarifica”, de acordo com o curador Manuel Costa Cabral.

Na opinião de José Alberto Ferreira, diretor do CAC, a artista é uma viajante que, “na sua busca destes santuários que pontuam há milénios as paisagens da Europa, percorreu e fotografou antas” em vários países europeus, entre os quais Portugal, com referência para a região do Alentejo, “território de eleição no qual apresenta agora o seu trabalho.”

“É este mapa de afetos que o Centro de Arte e Cultura agora tem o gosto de acolher e partilhar”, menciona, ainda, José Alberto Ferreira.


Entre os textos incluídos no catálogo que acompanha a mostra, João Pinharanda, diretor do Instituto Camões, em Paris, escreve que as fotografias pintadas, “embora pudessem parecer uma simples manipulação digital”, a verdade é que o “registo mecânico” da artista, “é contrariado por uma máscara pictórica de lenta e preciosa execução num cruzamento de tal modo subtil que pode escapar a olhares menos atentos.”

Na mesma publicação, o arqueólogo e professor da Universidade de Évora, Manuel Calado, afirma que o trabalho de Renée Gagnon focou-se, sobretudo, “em monumentos relativamente anónimos”, mas “imponentes”, em áreas tão distintas, como a Bretanha, Holanda, Portugal e Irlanda.

“As relações com as respetivas paisagens mantêm-se relativamente intactas, bem integradas”, podendo sentir-se “a força intemporal destas verdadeiras obras de arte muito valorizadas, certamente, nas suas épocas.”

O arqueólogo sublinha que “os monumentos megalíticos europeus são obras da criatividade humana”, logo, “olhá-las com olhos de ver” é, de alguma forma, “uma homenagem justa aos nossos antepassados, os artistas megalíticos, sonhadores como nós e, como os artistas do nosso tempo, abrindo caminhos novos e, como sempre, insondáveis.”

Renée Gagnon fixou-se em Lisboa, em 1970. As últimas décadas da sua vida têm sido dedicadas ao cinema, na área da distribuição, tendo-se especializado em cinema africano. É formada em pintura pela Escola de Belas Artes de Montreal e pela Escola do Louvre em Paris. Desde 1976, assinou diversas publicações, participou em sete exposições individuais, de Faro a Zurique, e mais de dez coletivas.

Os seus trabalhos estão representados nas coleções da Fundação Calouste Gulbenkian, na Fundação Júlio Resende, na Caixa Geral de Depósitos, na Secretaria de Estado da Cultura, na Valor Sul Lisboa, na Presidência da República de Angola e na Câmara Municipal de Luanda e Lobito.

“Santuários” inaugura este sábado e vai ficar patente ao público, no CAC, entre terça-feira e domingo, com entrada livre.