Calouste Gulbenkian “começou a colecionar de forma bastante precoce na década de 1880, na sua adolescência”. E uma das suas “verdadeiras paixões” eram as moedas. Parte desse espólio é agora mostrado na exposição “Mar de Identidades”, que é inaugurada esta terça-feira no Museu do Dinheiro, em Lisboa.
A coleção, à qual o colecionador “tinha uma ligação pessoal muito forte”, reúne 58 moedas, “todas elas moedas do tipo grego”, explica ao programa Ensaio Geral da Renascença o curador da exposição João Pedro Vieira.
“Não dizem apenas respeito a populações gregas, sejam elas da Grécia continental ou do sul de Itália. Dizem também respeito a outros povos, nomeadamente aos romanos e aos cartagineses”, detalha o responsável da exposição que vai estar aberta ao público até 14 de maio do próximo ano.
“Através desta seleção de 58 moedas da coleção Gulbenkian procuramos passar uma imagem da diversidade cultural do Mediterrâneo, nomeadamente da sua região central. O tema dominante é o da identidade e a forma como ela é construída e lembrada”, indica João Pedro Vieira.
A exposição passa pelos “mitos que estão por trás da fundação das cidades”, bem como pela questão de como a “identidade é propagandisticamente construída, transmitida e reconstruída ao longo de alguns conflitos políticos e militares”, diz o comissário da mostra.
“A esmagadora maioria das peças foi adquirida através de leilões”, conta João Pedro Vieira que indica que “numa fase mais tardia da vida, na década de 1940”, Gulbenkian terá adquirido “uma coleção muito importante, a coleção Jameson, na qual vinham peças de grande raridade, qualidade técnica e beleza artística”.
Este tesouro numismático relaciona-se de forma direta com a ideia de identidade da época. Tal como hoje o euro tem uma face em que cada país coloca a sua marca nacional, então também as moedas eram usadas como fator de pertença.
Em comparação com o euro hoje usado no espaço europeu, João Pedro Vieira explica que “no caso das moedas romanas, cartaginesas ou gregas, esse fator identitário ainda se nota de uma forma muito mais evidente”.
“Durante muito tempo, os desenhos escolhidos são desenhos verdadeiramente agregadores do ponto de vista identitário. Remetem para as divindades protetoras das cidades, para as personagens, sejam elas lendárias, ou divinas que fundam ou estão relacionadas com os atos fundacionais. Remetem também para acontecimentos marcantes, ou templos. É todo um reportório de elementos que transmite essa identidade cívica.”
Este espólio pode ser visitado na exposição "Mar de Identidades", no Museu do Dinheiro, em Lisboa, até 14 de maio do próximo ano, de quarta a domingo das 10h00 às 18h00, com entrada gratuita.