Um tribunal de Moscovo condenou esta quinta-feira a quatro anos de prisão o nacionalista russo Igor Girkin, um veterano dos combates na Ucrânia em 2014, que apoiou a ofensiva contra Kiev e se tornou crítico do regime.
A Rússia tem estado a levar a cabo uma vasta campanha para reprimir os críticos do Kremlin (presidência), mas é a primeira vez que uma figura proeminente do movimento nacionalista é condenada.
Um juiz do tribunal municipal de Moscovo considerou Girkin culpado de "apelos públicos à prática de ações extremistas" e condenou-o a cumprir a pena num campo de "regime regular", segundo a agência francesa AFP.
"Eu sirvo a Pátria!", reagiu Girkin, vestido de preto, a partir da jaula de vidro reservada aos réus, rodeado por polícias encapuzados e com coletes à prova de bala.
Várias dezenas de apoiantes de Girkin, incluindo a mulher, assistiram à audiência.
Alguns usavam símbolos patrióticos russos, roupas camufladas e outros logótipos da autoproclamada república separatista de Donetsk, na Ucrânia.
O antigo comandante dos separatistas pró-russos no leste da Ucrânia, mais conhecido pelo pseudónimo "Strelkov", foi condenado nos Países Baixos pela destruição do voo MH17 sobre o leste da Ucrânia em 2014.
Popular nas redes sociais, é um apoiante da ofensiva russa contra Kiev, lançada em fevereiro de 2022, mas há meses que denuncia o que considera ser a incompetência das autoridades russas.
Girkin foi mais longe nas redes sociais do que outros nacionalistas russos, chegando a criticar o próprio Presidente, Vladimir Putin, enquanto outros visavam ministros e generais.
Foi detido em julho, um mês depois da revolta abortada de outro crítico do Estado-Maior russo, o líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, entretanto morto na explosão do avião em que viajava, apresentada como um acidente pelo Kremlin.
A acusação tinha pedido quatro anos e 11 meses de prisão num julgamento realizado à porta fechada.
Três apoiantes de Girkin foram detidos pela polícia à porta do tribunal após o veredicto, noticiou a AFP.
Um dos detidos segurava um cartaz onde se lia "Liberdade para Strelkov" e, tal como os outros dois detidos, é membro do partido Outra Rússia, fundado pelo escritor nacionalista Eduard Limonov.
No final de agosto, a partir da prisão, Girkin anunciou a intenção de se candidatar às eleições presidenciais de março próximo para substituir Putin.
Girkin, 53 anos, tornou-se conhecido na primavera de 2014, ao destacar-se como líder militar e um dos mais influentes dos separatistas que pegaram em armas por instigação da Rússia no leste da Ucrânia.
Antigo coronel do FSB, os serviços secretos russos, organizou as primeiras milícias armadas e governou com "mão de ferro" o bastião separatista de Sloviansk, tornando-se mais tarde ministro da Defesa da autoproclamada república de Donetsk.
Em agosto de 2014, anunciou a demissão em circunstâncias misteriosas, antes de regressar à Rússia, onde perdeu toda a influência até à ofensiva contra a Ucrânia, em fevereiro de 2022, que lhe permitiu regressar temporariamente ao favoritismo.
Em novembro de 2022, a justiça neerlandesa condenou-o à revelia a prisão perpétua por homicídio e por ter participado na destruição, sobre o leste da Ucrânia, do voo MH17 da Malaysia Airlines em 2014, que matou 298 pessoas.