Os participantes no Sínodo dos bispos, que decorre no Vaticano desde 30 de setembro e termina no próximo domingo, 29 de outubro, publicaram esta quarta-feira uma Carta dirigida a todos os fiéis.
Os mais de 380 membros com direito a voto neste encontro, dedicado ao tema da sinodalidade na Igreja, consideram que se tratou de uma experiência sem precedentes. “Pela primeira vez, a convite do Papa Francisco, homens e mulheres foram convidados, em virtude do seu batismo, a sentarem-se à mesma mesa para participarem não só nos debates mas também nas votações desta Assembleia do Sínodo dos Bispos”, lê-se na Carta publicada em diversas línguas.
Um sínodo com o mundo em crise
Com um programa intenso, repartido entre reuniões gerais e discussões de grupo, os trabalhos do Sínodo não foram alheios ao actual contexto mundial, nem aos problemas relacionados com a guerra e o drama das migrações.
“A nossa assembleia decorreu no contexto de um mundo em crise, cujas feridas e escandalosas desigualdades ressoaram dolorosamente nos nossos corações e conferiram aos nossos trabalhos uma gravidade peculiar, tanto mais que alguns de nós provinham de países onde a guerra deflagra”, recorda o texto. “Rezámos pelas vítimas da violência assassina, sem esquecer todos aqueles que a miséria e a corrupção atiraram para os perigosos caminhos da migração. Comprometemo-nos a ser solidários e empenhados ao lado das mulheres e dos homens que operam em todo lugar do mundo como artesãos da justiça e da paz.”
Atentos às questões climáticas, os participantes do sínodo referem-se também à Casa Comum, “onde o clamor da terra e o clamor dos pobres ressoam cada vez com mais urgência” e sublinham a importância da "Laudate Deum!", publicada a 4 de outubro pelo Papa Francisco, logo no início dos trabalhos.
As palavras dos sem-abrigo e de Santa Teresinha
Esta Carta assinala ainda dois momentos significativos, que acompanharam esta assembleia sinodal. O primeiro foi o que alguns sem-abrigo disseram ao Papa quando lhes perguntou o que esperavam deste sínodo e a resposta foi: “Amor!”. O segundo momento relaciona-se com o mesmo tema, pois “o amor deve permanecer sempre o coração ardente da Igreja, o amor trinitário e eucarístico, como recordou Francisco evocando a mensagem de Santa Teresa do Menino Jesus a 15 de outubro, a meio da nossa assembleia”, escrevem os signatários.
Segundo refere o texto da Carta, a participação de todos nos trabalhos do Sínodo revelou “audácia e liberdade interior” e ninguém terá hesitado “em exprimir livre e humildemente” as suas convergências e diferenças, desejos e as interrogações.
E agora?
Os signatários esperam que “os meses que nos separam da segunda sessão, marcada para outubro de 2024, permitam a todos participar concretamente no dinamismo de comunhão missionária”. Conscientes de que, na próxima Assembleia sinodal de 2024, “os desafios são muitos e as questões numerosas”, desejam que o relatório de síntese, que será publicado no final desta primeira sessão, possa “esclarecer os pontos de acordo alcançados, destacar as questões em aberto e indicar a forma de prosseguir os trabalhos”. E sublinham, sobretudo que “para progredir no seu discernimento, a Igreja precisa absolutamente de escutar todos, a começar pelos mais pobres”.
Este processo de atenção e escuta inclui, necessariamente, “aqueles que não têm direito à palavra na sociedade ou que se sentem excluídos, mesmo da Igreja”, bem como “as pessoas que são vítimas do racismo em todas as suas formas, especialmente, nalgumas regiões, os povos indígenas cujas culturas foram desprezadas”. Destaque especial vai para a escuta das vítimas de abusos cometidos por membros do corpo eclesial. Trata-se de "um dever de escutar, em espírito de conversão”, com a responsabilidade “de se empenhar concreta e estruturalmente para que isso não volte a acontecer.”