“Uma pequena superpotência musical”. É assim que o embaixador checo em Lisboa define o seu país, o mesmo do famoso compositor Antonín Dvořák, e que este ano será a nação homenageada da 16.ª edição do Festival Terras sem Sombra, que irá decorrer de 18 de janeiro a 12 de junho, em 13 concelhos do Alentejo.
O Festival Terras sem Sombra que este ano chega, pela primeira vez, a quatro distritos do Alentejo aposta em juntar a música erudita, ao património e a um conjunto de iniciativas de salvaguarda da biodiversidade.
Programados estão 18 concertos, que abarcam um repertório musical que vai da Idade Média até à atualidade, e irá acontecer em Vidigueira, Barrancos, Mértola, Arraiolos, Viana do Alentejo, Beja, Ferreira do Alentejo, Castelo de Vide, Sines, Alter do Chão, Santiago do Cacém e Odemira, mais três concelhos que no ano passado.
Na apresentação esta terça-feira em Lisboa, o diretor geral do evento, José António Falcão anunciou outra das novidades da edição deste ano. Há uma aposta no rejuvenescimento do público da música erudita, com o programa "Terras Kids" direcionado para crianças e jovens com idades entre os seis e os 16 anos e que tenta também incentivar o público familiar.
“A música erudita está a notar um envelhecimento dos públicos”, explicou Falcão numa sessão na Biblioteca da Academia das Ciências em Lisboa, acrescentando que “a Associação Europeia de Festivais, a que o Terras Sem Sombra pertence, deu um mandato para levar o público infantojuvenil” de volta à música.
Na apresentação, Sara Fonseca, a responsável por esta programação para os mais novos, deu a conhecer a mascote do “Terras Kids”, uma ovelha de lã feita por artesãos alentejanos e explicou que irão pegar nas famosas Fábulas de La Fontaine, para pensar as atividades para os mais pequenos que irão decorrer em locais como Nodar, Beja ou Castelo de Vide.
O que vai poder ouvir no Alentejo de janeiro a junho
Com o mote "Uma Breve Eternidade: Emoções e Comoções na Música Europeia (éculos XII-XXI)", esta edição do Festival Terras Sem Sombra, vai itinerar por vários concelhos, entre eles quatro novidades: Castelo de Vide, Arraiolos, Alter do Chão e Viana do Alentejo.
O programa, que está todo detalhado na página de internet terrassemsombra.pt, foi dado a conhecer na conferência pelo espanhol Juan Angel Vela del Campo, o diretor artístico do festival que começou por destacar os concertos de músicos checos que irão apresentar “a quinta essência da música checa”.
Além do concerto pré-inaugural, que irá esta semana levar o Grupo Coral Os Bóinas, de cante alentejano, à cidade de Praga, no Alentejo haverá também um diálogo entre a pianista Ana Telles e a flautista checa Monika Steitová que tocarão em Arraiolos, na Igreja do Convento de Nossa Senhora da Assunção, a 29 de fevereiro.
Outro dos destaques vindo da República Checa, nesta embaixada musical ao Alentejo, será o Tiburtina Ensemble que tocará a 18 de janeiro na Igreja Matriz de São Cucufate, em Vila de Frades (Vidigueira) tornando esta vila “na capital da música coral”, classificou o diretor artístico.
Juan Angel Vela del Campo destacou também a presença dos grupos checos Clarinet Factory que tocará jazz, a 16 de maio, no Castelo de Sines, e os Smetana Trio, que vai estar a 27 de junho na Igreja Matriz de Santiago Maior, em Santiago do Cacém.
Outra das novidades do programa do Terras Sem Sombra é que haverá este ano, a 13 de junho, um espetáculo surpresa em lugar a anunciar.
O diretor artístico que destacou este festival como um dos melhores da Europa, ironizou que “não se ouve uma tosse ou um caramelo a ser desembrulhado nos espetáculos, ao contrário do que acontece nos grandes auditórios da Europa”.
No cartaz há também espaço a revelações para o público nacional. Exemplo disso é o jovem violoncelista Pedro Bonet, de 22 anos, que venceu este ano um importante prémio em Espanha e que toca, a 1 de fevereiro, no Cineteatro de Barrancos. Nas palavras do diretor artístico, este músico “está a arrasar agora em vários países” e apresenta-se com um programa onde irá tocar Bach.
Outro dos destaques é o contratenor José Hernández Pastor que “se dedica a concertos a cappella de música antiga”, como disse Juan Angel del Campo, que explicou que este intérprete “gosta de se passear entre o público para dar a sentir a dimensão espiritual”. O espanhol irá atuar a 15 de fevereiro, em Mértola, na Igreja Matriz de Nossa Senhora de Entre-as-Vinhas.
Mas nem tudo é música. Este Festival Terras Sem Sombra empenhou-se desde a sua fundação na recuperação do património do baixo Alentejo e continua hoje, 16 anos depois, a apostar em olhar o património de génese alentejana.
Uma das sessões programadas para 1 de fevereiro, em Barrancos, é dedicada ao Barranquenho; também em Arraiolos, a 29 de fevereiro, irão olhar a arte da tapeçaria ou em Sines, a 16 de maio, irão dedicar uma sessão às artes tradicionais da pesca.
Além da música e o património, o Terras Sem Sombra dá também destaque à salvaguarda da biodiversidade. Entre as iniciativas programadas estão ações de salvaguarda dos laranjais da Vidigueira; o rio Ardila, que nasce em Espanha e desagua na margem esquerda do rio Guadiana, perto de Moura, contará com uma ação em torno da flora e fauna da região; já em Mértola haverá uma iniciativa de sensibilização sobre agricultura sustentável e em Alcáçovas a ação será sobre a proteção da raça bovina Garvonesa ou Chamusca.
O uso alimentar da bolota colhida nos montados de Arraiolos, a produção artesanal da cal, na freguesia de Trigaches, em Beja, ou o cavalo Lusitano são outros dos temas nestas ações de salvaguarda da biodiversidade alentejana promovidas pelo Festival Terras Sem Sombra organizado pela associação Pedra Angular e que conta com diversos apoios, desde a Direção-Geral das Artes, a apoios mecenáticos de diversas entidades privadas e públicas.