Imogen Heap não é alheia à tecnologia. Bem pelo contrário: o “bichinho” pelos computadores surgiu quase ao mesmo tempo que o “bichinho” da música, como explicou a britânica em pleno palco principal da Web Summit, esta quarta-feira.
Antes de ganhar dois Grammy, assinar diversas bandas sonoras (quem não se lembra de “Hide and Seek” na série “The O.C.”?) e revolucionar o pop experimental, era num computador Atari que descobria, aos 12 anos, o fascínio pela produção e composição.
Apresentada por Paddy Cosgrave como uma “visionária da música”, a também engenheira de som garantiu em palco que a tecnologia é, para ela, um instrumento intimista e humanizador.
“Desenvolvo tecnologia para me tornar mais humana, mais criativa”, assegura, dando como exemplo umas luvas “wireless” que desenhou para poder manipular sons num computador apenas com o movimento das mãos (e que não conseguiu usar em palco porque havia demasiada gente ligada à net…). É com elas que quer democratizar o processo criativo, permitindo que qualquer pessoa crie música com o corpo, liberta de instrumentos, usando os gestos para criar sons.
“Só queria chegar a um computador e tirar de lá de dentro os sons e libertá-los para o mundo”, confessa.
Blockchain ao serviço da música
Imogen Heap pretende revolucionar a indústria pelos instrumentos, mas também pelo negócio. Para isso, irá lançar a 9 de dezembro um sistema baseado numa aplicação para telemóvel que usa numa espécie de sistema blockchain para acelerar o processo de pagamento aos artistas, encurtando o tempo que demora a gerar receita e garantindo mais justiça na altura de distribuir dividendos.
“Temos muito dinheiro a ser distribuído anualmente na indústria musical e metade dele não vai parar às mãos das pessoas certas. Há muita ineficácia no processo”, admite.
Ao mesmo tempo, o sistema também permitirá criar uma base de dados sonora para cada artista, que passaria a ter um “passaporte criativo” e uma identidade única online, criada e alimentada com recurso à inteligência artificial. Parece complicado? Para Imogen nem tanto, uma vez que a artista acredita que o futuro do som passa mesmo por aí: usando a capacidade que um computador tem para aprender, será possível, em teoria, encontrar a música perfeita para cada momento.
O futuro do som é generativo e reativo
“O que me entusiasma com a música é que, no futuro, uma versão de mim feita por inteligência artificial (AI) poderá rapidamente aprender padrões comigo. Quero que a minha versão AI seja capaz de se adequar aos sentimentos de cada ouvinte, como se eu estivesse a interagir diretamente com ele. Acho que isso será o futuro”, explicou, em conferência de imprensa.
Quando ao som propriamente dito, Imogen acredita num futuro em que o sons seja “generativos e reativos”, que reajam com os sentimentos de quem ouve, com o bater do coração, com o tempo que faz lá fora. “Acredito numa espécie de realidade aumentada para sons em que tudo é intensificado”, remata.
Imogen Heap vai apresentar-se ao vivo em concerto no Capitólio, em Lisboa, este domingo.