Bangladesh envia mais de 3.000 rohingya para ilha remota em dois dias
30-01-2021 - 17:31
 • Lusa

Com as transferências deste sábado e sexta-feira, que duplicaram o número de refugiados na ilha para quase 7.000, as autoridades deram por concluída a terceira fase do plano de realojamento.

As autoridades do Bangladesh transferiram este sábado 1.454 refugiados rohingya para uma ilha remota na baía de Bengala, que acrescem aos 1.790 enviados na sexta-feira, para descongestionar os acampamentos superlotados no sudeste do país, refere a EFE.

Segundo a EFE, entre os cerca de 1.500 refugiados rohingya transferidos está uma mulher que deu à luz durante a travessia marítima.

“Em dois dias transportámos 3.244 refugiados para (ilha) Bhasan Char. Entre eles, 1.454 viajaram hoje e todos chegaram à ilha em segurança, comeram e estão agora a descansar", disse o comissário adjunto para os refugiados do Bangladesh, Mohammad Shamsuddoha.

A mesma fonte acrescentou que uma mulher grávida, membro desta minoria, maioritariamente muçulmana e perseguida pelo regime de Myanmar (antiga Birmânia), deu à luz enquanto viajava para Bhasan Char.

"Tanto a mãe quanto o bebé estão seguros. Desencorajámos algumas mulheres em estado de gravidez avançado a viajar, mas elas estavam muito interessadas em ir", disse Shamsuddoha.

Com as transferências deste sábado e sexta-feira, que duplicaram o número de refugiados na ilha para quase 7.000, as autoridades deram por concluída a terceira fase do plano de realojamento.

Em dezembro, cerca de 3.500 rohingya foram deslocalizados para a ilha.

O governo do Bangladesh justificou estas transferências como uma necessidade imperativa para descongestionar os acampamentos superlotados no sudeste do país, que atingiram cerca de 738.000 rohingya, após a eclosão em agosto de 2017 de uma campanha de perseguição e violência pelo exército do vizinho Myanmar.

Esta perseguição levou as Nações Unidas a classificar a ação como um exemplo de limpeza étnica e possível genocídio, algo que os tribunais internacionais estão a investigar.

Grupos de defesa dos direitos humanos, como a Human Rights Watch (HRW), pediram para que fosse interrompido o processo de transferência devido às condições da ilha, desabitada e que costuma inundar durante as monções e, sobretudo, à falta de transparência do processo.

O Bangladesh anunciou, pela primeira vez, em 2017, a intenção de realojar cerca de 100.000 rohingya, nesta ilha com cerca de 40 quilómetros quadrados, localizada na baía de Bengala, embora tenha suspendido temporariamente o plano devido às dúvidas levantadas pelas Nações Unidas.

A ONU, que exigiu que o processo de transferência seja voluntário, negou a sua participação nos preparativos desse movimento e disse ter informações “limitadas" sobre o plano.