Morreu esta quarta-feira, aos 88 anos, o homem que supervisionou a resposta dos Estados Unidos da América aos atentados do 11 de Setembro, que levaram à invasão do Afeganistão e do Iraque.
Após um longo percurso ao serviço de vários governos americanos, sobretudo ligado ao Partido Republicano, Donald Rumsfeld foi escolhido pelo Presidente George W. Bush para ser seu braço direito. Enquanto secretário de Estado Rumsfeld prometeu revolucionar o pentágono e toda a estrutura da defesa norte-americana, acabando com burocracias e tornando-a mais leve e flexível.
Depois aconteceu o 11 de Setembro, e nada seria como antes.
Uma das primeiras consequências do ataque que abalou a América foi a decisão de invadir o Afeganistão, na altura um estado falhado, dominado pelos Taliban, um grupo jihadista que albergava o terrorista Osama Bin Laden, responsável pelos atentados.
O ataque americano resultou numa vitória esmagadora. Os Taliban foram escorraçados e Bin Laden quase capturado, embora tenha conseguido escapar para o Paquistão. No lugar do regime jihadista foi colocado um Governo democraticamente eleito e, por algum tempo, tudo parecia estar a correr bem para a doutrina de consrução de estados da administração americana, orientada por Rumsfeld.
Depois veio a decisão que acabaria por assombrar o legado de Rumsfeld e do seu colega Dick Cheney. Sob pretexto de uma ligação à Al-Qaeda e da posse de armas de destruição maciça, as forças americanas lideraram uma coligação que invadiu o Iraque e destronou Saddam Hussein, que o pai do então Presidente, George Bush, tinha deixado no poder anos antes na Primeira Guerra do Golfo.
O regime iraquiano também caiu e o sucesso parecia ter sido alcançado, mas as forças americanas cometeram uma série de erros crassos, não tomando em consideração a rivalidade entre sunitas e xiitas e criando um vazio de poder ao despedir todas as figuras do aparelho militar e civil com ligações ao Partido Baath, de Saddam. O resultado foi um conflito civil que deixou um rasto enorme de morte entre a população iraquiana e uma sucessão de insurreições contra as forças ocidentais. O caos levou a que Bush despedisse Rumsfeld em 2006.
Dezoito anos mais tarde o Iraque começa finalmente a dar ares de estabilidade mas uma força americana residual continua no terreno, assistindo a uma aliança cada vez mais forte entre Bagdade e o Irão, o arqui-inimigo de Washington. O entusiasmo de Rumsfeld e de Cheney pela construção de estados através da invasão e derrube de ditadores parece agora ingenuidade.
Numa nota publicada pela família de Rumsfeld lê-se que "é com profunda tristeza que partilhamos a notícia da morte de Donald Rumsfeld, um estadista americano e marido, pai, avô e bisavô dedicado".
"Aos 88 anos encontrava-se rodeado pela família no seu amado Taos, Novo México."
"A história poderá recordá-lo pelos seus feitos extraordinários ao longo de seis décadas de serviço público, mas para aqueles que o conheciam melhor, e cujas vidas foram mudadas para sempre por causa dele, será recordado sobretudo por causa do seu amor inabalável pela sua mulher Joyce, a sua família e amigos e a integridade que trouxe para uma vida dedicada ao seu país."
[Notícia atualizada às 21h18]