Concordam nas críticas a Marcelo e na necessidade de convergência, mas discordam em política europeia. E foi em matérias europeias que o debate entre a socialista Ana Gomes e o comunista João Ferreira aqueceu e foi por aí que terminou.
Antes, foram mais de 20 minutos de convergências, com ligeiras divergências à mistura. Ana Gomes começou por dizer que estará sempre disponível para convergência mesmo antes de dia 24. “Se houver uma segunda volta tudo é possível”, afirmou Ana Gomes, que acredita que as presidenciais podem não ficar resolvidas no dia 24.
João Ferreira também se manifestou disponível para convergências, mas recusa uma desistência porque considera que a sua candidatura é “insubstituível” por entender que é possível um exercício diferente do poder presidencial. E em matéria de exercício do poder presidencial, ambos teceram críticas a Marcelo Rebelo de Sousa, se bem que o candidato comunista tenha considerado Ana Gomes mais branda nessa apreciação.
“Marcelo em muitos aspetos não foi o Presidente à altura do que precisávamos”, disse Ana Gomes, concordando com as críticas de João Ferreira a promulgações de leis que considera terem prejudicado os trabalhadores. “Mais do que nunca é preciso valorizar o trabalho”, acrescentou a socialista, que fez questão de “prestar tributo” ao PCP pela viabilização de Orçamentos do Estado nos últimos anos.
Ana Gomes deu a justiça como exemplo de uma área em que se espera mais de um Presidente eleito por sufrágio universal e que, no seu entender, devia usar a “magistratura de influência” para contactar diretamente com os agentes da justiça e exercer pressão junto do Governo para que aumente os meios deste sector.
Questionada sobre se, com Marcelo, se foi perdendo o poder da palavra presidencial, tendo em conta que a pressão do Presidente levou, em 2017, à demissão de Constança Urbano de Sousa e agora não leva a demissões nem de Eduardo Cabrita, nem de Francisca van Dunen, Ana Gomes pôs em causa as reais intenções presidenciais. “Finge-se que se quer um determinado resultado e verdadeiramente não se quer”, disse a candidata, questionado como foi possível a “desautorização” tanto do Governo como do Presidente pelo diretor nacional da PSP quando defendeu no Palácio de Belém uma reforma nas polícias.
Por seu lado, João Ferreira acusou Marcelo de se ter afastado “em vários momentos” do juramento de cumprir e fazer cumprir a Constituição. Além dos exemplos sobre leis laborais, apontou as dificuldades criadas pelo Presidente ao controlo publico dos transportes das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.
Chegados, finalmente, ao que os divide os candidatos discutiram diretamente os diferentes posicionamentos em matéria europeia, com João Ferreira a dizer que não é contra a União Europeia, não nega a necessidade de cooperação, não aceita é a integração. “Não me conformo que seja a Alemanha a determinar as nossas políticas”, afirmou o candidato comunista.
Já Ana Gomes deixou bem claro que é europeísta e defende mesmo a partilha de soberania e a necessidade de impostos europeus. E defendeu que a resposta à pandemia mostra bem que a integração europeia é o melhor caminho a seguir.