O geógrafo Rio Fernandes avançou que o entupimento de bueiros com matéria das obras do Metro do Porto pode ter contribuído para as enxurradas de sábado, bem como um possível desvio de canais pluviais subterrâneos.
"Temos aqui um conjunto de cubos, de areias, de gravilha, e, portanto, todos esses materiais foram empurrados pela água. E tivemos aqui situações em que o normal escoamento, através dos sistemas de infiltração, os bueiros - ou as sarjetas, como se diz no sul -, muitos deles estiveram entupidos", disse à Lusa o académico.
De acordo com o professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, esta circunstância terá feito com que "a água não se infiltrasse naturalmente nos sistemas pluviais e andasse a escorrer à superfície".
"Portanto, os próprios materiais de construção terão ajudado a provocar este enorme volume de águas superficiais", disse à Lusa.
José Alberto Rio Fernandes crê que "os estaleiros não tiveram o cuidado relativamente ao volume de inertes que estava aqui presente", apontando "dupla responsabilidade", tanto à Metro do Porto como à câmara municipal, entidades que estão a avaliar as causas do sucedido.
"Devia-se evitar este conjunto de inertes aqui disponíveis numa bacia de água que tem caráter torrencial. É uma linha de água pequena e que, face a um aviso laranja (da Proteção Civil), isto poderia perfeitamente ocorrer", disse.
Outra das possibilidades avançadas pelo geógrafo é o desvio de um dos braços (o da Avenida dos Aliados) do rio da Vila, curso subterrâneo de águas pluviais que atravessa o Porto, que, segundo um documento do projeto da nova estação de metro na Praça da Liberdade, já estará ou será desviado para uma zona próxima à estação de comboios de São Bento, na confluência das ruas Sá da Bandeira, 31 de Janeiro e da Madeira, junto do outro dos braços do rio.
Contactadas pela Lusa, nem a Metro do Porto nem a câmara municipal conseguiram confirmar se o desvio já foi feito ou se, para já, a água continua a utilizar o canal antigo, que passa por debaixo do Hotel Intercontinental e da Praça da Cardosas e se junta ao canal que depois vai ter à Rua Mouzinho da Silveira.
Caso já tenha sido efetuado o desvio, para José Rio Fernandes poderão ter sido as "curvas e contracurvas que terão precipitado a saída do Rio da Vila do seu leito normal".
"Ao colocar este volume de água a fazer curvas e contracurvas subterrâneas, ele deve-se ter "aborrecido" e veio cá para cima", aventou o académico.
José Alberto Rio Fernandes estimou ainda que, "por causa da localização da estação", em que "há vários fatores na escolha", um dos "que terá sido subalternizado terá sido a questão das águas subterrâneas".
"As águas não andam como automóveis, nem têm semáforos, nem os cruzamentos costumam ser de 90 graus. Portanto, parece-me uma solução muito pouco adaptada à natureza", concluiu.
O concelho do Porto registou, no sábado, em menos de duas horas, 150 pedidos de ajuda por causa das inundações em habitações e vias públicas, principalmente na baixa da cidade, disse à Lusa fonte da Proteção Civil local.
O vice-presidente da câmara municipal, Filipe Araújo, destacou que a autarquia do Porto não estava preparada para o que sucedeu na Rua Mouzinho da Silveira, perto da estação de São Bento e da Ribeira, e onde decorrem obras da Metro do Porto, reconhecendo que as obras que estão a decorrer podem ter provado alguma alteração.
Na sequência das enxurradas, a Metro do Porto pediu um estudo sobre as condições da empreitada da Linha Rosa, que decorre na baixa da cidade, ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).