"Engenheiros que estão a sair das escolas não chegam para preencher vagas dos que saem"
18-10-2019 - 13:35
 • Anabela Góis com redação

À Renascença, o bastonário da Ordem dos Engenheiros lamenta que não haja "um período de sobreposição dos mais novos com os mais velhos, uma coisa fundamental".

Em breve não vai haver engenheiros suficientes para preencher as vagas deixadas pelos profissionais que se reforma. O alerta é do bastonário da Ordem dos Engenheiros, em entrevista no programa "As Três da Manhã" da Renascença.

Segundo Carlos Mineiro Aires, a classe dos engenheiros está envelhecida a um tal ponto que o número de recém-licenciados na área não chega para preencher os lugares dos que saem.

"Estamos a formar à volta dos 300 a 400 engenheiros por ano e, se fizermos as contas aos que estão a sair, e considerando que estão envelhecidos, nomeadamente os civis, rapidamente iremos compreender que os que estão a sair das escolas, as fornadas, não dão para preencher os lugares dos que saem", sublinha o bastonário.

A isto acresce "um problema", que é o facto de não haver "um período de sobreposição dos mais novos com os mais velhos, não há a passagem da experiência, que é uma coisa fundamental para fazer engenharia", adianta Carlos Mineiro Aires.

Os atuais desafios na área das engenharias não se ficam por aqui. O bastonário receia que a falta de programação atempada das obras possa estar a empurrar os investimentos para empresas estrangeiras em detrimento das portuguesas.

"Sabemos bem que os fundos comunitários e todos os planos têm uma taxa de realização relativamente atrasada. Agora temos o grande plano PNI 2030 e esperemos que haja uma programação atempada para esse investimento. Neste momento, se as obras não são lançadas de forma programa, estamos a lançar obras para empresas estrangeiras e estamos a deixar de criar riqueza em Portugal e de dar condições às nossas empresas para virem a recapitalizar-se e, pelo menos, a pagar os juros das dívidas que acumularam durante estes anos."

Um terceiro problema é a fuga de cérebros portugueses da área da engenharia aerospacial, que Carlos Mineiro Alves diz ser inevitável dada a realidade portuguesa, onde esta engenharia tem pouca expressão.

"Invariavelmente eles vão para o estrangeiro. Em Portugal o 'cluster' da aeronáutica resume-se, praticamente, a Évora e a alguma coisa na zona centro, mas infelizmente são pessoas altamente qualificadas com uma formação muito exigente, paga pelos contribuintes, e que depois estão destinados a ir para as grandes empresas de aeronáutica, nomeadamente a AirBus e a Boeing."