Em breve não vai haver engenheiros suficientes para preencher as vagas deixadas pelos profissionais que se reforma. O alerta é do bastonário da Ordem dos Engenheiros, em entrevista no programa "As Três da Manhã" da Renascença.
Segundo Carlos Mineiro Aires, a classe dos engenheiros está envelhecida a um tal ponto que o número de recém-licenciados na área não chega para preencher os lugares dos que saem.
"Estamos a formar à volta dos 300 a 400 engenheiros por ano e, se fizermos as contas aos que estão a sair, e considerando que estão envelhecidos, nomeadamente os civis, rapidamente iremos compreender que os que estão a sair das escolas, as fornadas, não dão para preencher os lugares dos que saem", sublinha o bastonário.
A isto acresce "um problema", que é o facto de não haver "um período de sobreposição dos mais novos com os mais velhos, não há a passagem da experiência, que é uma coisa fundamental para fazer engenharia", adianta Carlos Mineiro Aires.
Os atuais desafios na área das engenharias não se ficam por aqui. O bastonário receia que a falta de programação atempada das obras possa estar a empurrar os investimentos para empresas estrangeiras em detrimento das portuguesas.
"Sabemos bem que os fundos comunitários e todos os planos têm uma taxa de realização relativamente atrasada. Agora temos o grande plano PNI 2030 e esperemos que haja uma programação atempada para esse investimento. Neste momento, se as obras não são lançadas de forma programa, estamos a lançar obras para empresas estrangeiras e estamos a deixar de criar riqueza em Portugal e de dar condições às nossas empresas para virem a recapitalizar-se e, pelo menos, a pagar os juros das dívidas que acumularam durante estes anos."
Um terceiro problema é a fuga de cérebros portugueses da área da engenharia aerospacial, que Carlos Mineiro Alves diz ser inevitável dada a realidade portuguesa, onde esta engenharia tem pouca expressão.
"Invariavelmente eles vão para o estrangeiro. Em Portugal o 'cluster' da aeronáutica resume-se, praticamente, a Évora e a alguma coisa na zona centro, mas infelizmente são pessoas altamente qualificadas com uma formação muito exigente, paga pelos contribuintes, e que depois estão destinados a ir para as grandes empresas de aeronáutica, nomeadamente a AirBus e a Boeing."