O professor catedrático de finanças João Duque considera que a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) deve pronunciar-se sobre o recente negócio de jogadores entre Sporting e FC Porto.
Leões e dragões trocaram, no último mercado, dois jovens (Marco Cruz ruma a Lisboa, enquanto Rodrigo Fernandes segue para o Porto), com uns e outros a pagarem a mesma verba, 11 milhões de euros, pelas transferências, de acordo com o relatório que dá conta das operações financeiras efetuadas pelas sociedade anónimas desportivas.
Ouvido por Bola Branca, João Duque não vê qualquer ilegalidade no negócio. Apenas o acha "curioso" e defende que a CMVM faça o seu papel:
"Merece que as autoridades de supervisão estejam atentas, bem como os conselhos fiscais dos clubes. A CMVM pode questionar. Não significa que seja contabilidade criativa ou operação ilícita, mas é curioso que seja um valor exatamente igual, em ambas as sociedades. Quando se junta a fome com a vontade de comer, toda a gente beneficia, intermediários incluídos, e fica contente. A questão é só esta: se espelha, ou não, a realidade."
João Duque assinala que "não é muito comum, entre clubes, uma operação cuja génese seja uma motivação financeira".
"Mesmo sendo, não significa que seja ilícita. Podemos trocar os nossos automóveis, por exemplo, e não é ilícito. Só é se o valor de transação não corresponder à realidade. O que se pretende é que a contabilidade ilustre a realidade empresarial. E se essa realidade é muito diferente dos valores registados nas contas, então, alguma coisa está errada", refere.
João Duque explica à Renascença o que pode estar em cima da mesa.
"Há um benefício pela venda, mas não há contrapartida de custo, porque o pagamento é amortizado em anos subsequentes. É uma operação que, do ponto contabilístico, se não corresponder à verdade, atenção, é contabilidade criativa", sublinha o professor de finanças.