A ativista de direitos humanos Nadia Murad, esta sexta-feira laureada com o Nobel da Paz, sublinhou a importância de receber o prémio "por todas as mulheres" vítimas de violência sexual.
O Comité Nobel norueguês atribuiu o galardão a Nadia Murad e ao médico congolês Denis Mukwege.
"[Receber o prémio] significa muito, mas não somente para mim, mas para todas as mulheres do Iraque e do mundo inteiro", disse a jovem iraquiana contactada por telefone, cujas declarações foram inscritas no sítio 'online' do Nobel.
A laureada, ela própria com uma história de escravatura sexual da qual conseguiu fugir, comentou que não é fácil falar sobre o seu caso pessoal: "Sobretudo para as mulheres do Médio Oriente, dizer que foram escravizadas sexualmente é muito difícil".
Tal como milhares de jovens e mulheres yazidis, uma comunidade do Iraque que os 'jihadistes' consideram herética, Nadia Murad foi forçada a ser escrava sexual pelo grupo terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante em agosto de 2014, e mantida como escrava sexual na cidade de Mossul.
"Em nome de todas estas pequenas comunidades perseguidas, este prémio diz-me que as suas vozes são ouvidas", disse ainda.
Atualmente, Nadia Murad é embaixatriz da ONU para a dignidade das vítimas do tráfico de seres humanos.
A mãe e seis irmãs foram mortas pelo grupo Estado Islâmico. Estima-se que mais de 3.000 yazidis permaneçam desaparecidos.
O Comité Nobel norueguês justificou a decisão com os esforços dos dois laureados para acabar com a violência sexual como arma nos conflitos e guerras de todo o mundo.
Nadia Murad fugiu em novembro de 2014, conseguindo chegar a um campo de refugiados no norte do Iraque, e, em seguida, a Estugarda, na Alemanha.
Desde então tem sido porta-voz da causa yazidi, tal como a sua amiga Lamia Haji Bachar, com a qual venceu, em conjunto, o Prémio Sakharov do Parlamento Europeu em 2016.
Denis Mukwege, com 63 anos, é um médico ginecologista congolês que tem desenvolvido uma ação humanitária na República Democrática do Congo, onde trata mulheres vítimas de violação.
É considerado um dos maiores especialistas mundiais na reparação e tratamento de danos físicos provocados por violação, e no seu hospital em Bukavu trata mulheres que foram violadas por milícias na guerra civil do Congo.
Durante os 12 anos de guerra tratou mais de 21 mil mulheres, algumas mais do que uma vez, chegando a fazer mais de dez cirurgias por dia.
Mukwege também já foi galardoado com os prémios Olof Palme (2008), Sakharov (2014) e veio a Portugal receber o Prémio Calouste Gulbenkian em 2015.
No ano passado, o prémio foi atribuído à Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN, em inglês), pelo trabalho feito para a eliminação de armamento nuclear no mundo.