O dia seguinte às eleições. “Costa está muito forte para fazer Governo minoritário"
07-10-2019 - 02:16
 • Ricardo Vieira

Nuno Garoupa e Luís Aguiar-Conraria comentaram os resultados das eleições legislativas na emissão especial da Renascença.

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A vitória do PS nas legislativas coloca António Costa “numa posição muito forte para fazer um Governo minoritário” sem acordos escritos de incidência parlamentar, defende Nuno Garoupa na Renascença. Luís Aguiar-Conraria afirma que “a geringonça parece ter sido uma exceção” na história da política portuguesa.

Nuno Garoupa, professor de Direito e investigador, considera que o PS “não tem necessidade de acordo com o Bloco de Esquerda”. Além disso, “tem a direita completamente enfraquecida e CDU enfraquecida”.

“António Costa está numa posição muito forte, como Guterres em 1995, de fazer Governo minoritário que os diferentes partidos irão viabilizando nas mais diferentes medidas durante os quatro anos de legislatura”, vaticina.

Para Nuno Garoupa, comentador do programa Conversas Cruzadas da Renascença, “o BE falhou completamente o seu objetivo de ser imprescindível ao PS”.

“Os resultados deixam o PS bastante livre para negociar com quem seja e Rui Rio, a manter-se na liderança do PSD, estará disponível para viabilizar as grandes reformas que o PS quer fazer”, sublinha.

“A ‘geringonça’ parece ter sido uma exceção”

Luís Aguiar-Conraria, professor da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, admite que o entendimento de esquerda dos últimos quatro anos terá sido uma exceção na história da política portuguesa.

“Quando estava a ouvir o discurso da Catarina Martins foi um bocadinho… na sede do BE estavam a viver um momento um bocado irreal, a pôr-se em bicos de pés. Nada nestes resultados permite ao BE ter um caderno de encargos tão elevado como apresentou. O mais provável é voltarmos ao regime de governos que tínhamos antes das últimas eleições de 2015: quando o PS ganhava à esquerda, ficava o PS a governar em minoria. A ‘geringonça’ parece ter sido uma exceção”, afirma o catedrático.

Em relação ao PSD, Luís Aguiar-Conraria considera que o resultado “não parece tão mau como estavam à espera”, à luz da derrocada nas últimas autárquicas e europeias, mas “a direita tradicional portuguesa, PSD e CDS, tem de se refundar”.

“A direita está a precisar de se repensar, mas o que nós vemos são caras velhas. Quando Manuel Monteiro regressa ao CDS, não se vê aqui grande refundação. PSD e CDS vão ter um problema nesta legislatura: Iniciativa Liberal e Chega, que tiveram resultados surpreendentes e vão ser bastante agressivos”.

"Mau resultado". Rio tem de fazer "enorme reflexão no PSD"

Nuno Garoupa, autor do livro "A direita portuguesa - da frustração à decomposição", considera que não há volta a dar. “É um mau resultado para Rui Rio. O pior resultado desde 1976 não é um bom resultado, por mais que façam comparações com as europeias e eleições anteriores. É um resultado que resulta de esmagar o CDS”, sublinha.

Rui Rio “tem condições para continuar, mas tem de fazer uma enorme reflexão no partido. Como é que tem apenas 28%, bipolarizando e esmagando o CDS”.

Para Luís Aguiar-Conraria, à esquerda “o principal derrotado da noite é a CDU”. “Não teve o resultado desastroso das últimas autárquicas e europeias, mas baixa de 8 e qualquer coisa por cento para 6 e qualquer coisa”.

Para o especialista, o eleitorado da CDU “continua a definhar” e “adivinha-se uma saída” do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa. “O PCP, desde 1961, só teve três secretários gerais. Se calhar o próximo vai até 2040, espero que o escolham bem”, sublinha.