Já foi um “eletrodoméstico obrigatório”, mas hoje o leitor de CD já não está presente nem nos carros, nem nos computadores, nem em muitas casas. Quem o diz é Sérgio Milhano, o diretor da editora discográfica independente PontoZurca, que está a celebrar 10 anos de vida.
A editora abriu, em Almada, uma loja de venda de discos Sérgio Milhano refere que “o consumo do vinil já ultrapassou as vendas de CDs”, e revela que “há uma procura das novas gerações”.
“Temos muitos clientes novos, miúdos de 16 a 18 anos” a comprar vinil, aponta. Em entrevista ao programa Ensaio Geral da Renascença, o responsável pela editora nascida na Margem Sul traça um panorama das mudanças na última década no mercado da música.
“É um bocadinho complicada” a vida das editoras de música independentes, diz Milhano, que admite que tem se registado uma baixa na procura de discos.
Hoje, os ouvintes de música preferem “as plataformas digitais”, refere Sérgio Milhano que já gravou no seu estúdio nomes da música portuguesa como Ana Moura, Gisela João ou Carlão e Ana Bacalhau.
Segundo este responsável da PontoZurca, o retorno financeiro das plataformas digitais é ainda “discutível” para os profissionais do setor.
Dado a baixa de consumo de discos, esta editora “aligeirou a frequência de edição”, indica Milhano nesta entrevista a propósito dos 10 anos da editora discográfica.
O editor admite a “dificuldade que começou a surgir na venda de discos”, diz que “já não se vendem tantos discos como se vendiam nos concertos” e isso tornou-se “mais complicado”. Ainda assim, não deixaram de trabalhar, mas redimensionaram o trabalho.
Questionado sobre o futuro, diz que têm ainda que “descobrir como fazer” para que as coisas voltem a uma “boa normalidade”.
A loja que têm em Almada, a Drogaria Central, que vende essencialmente discos de vinil, abriu portas a “uma nova realidade”, indica Milhano. “A loja permitiu-nos ter um contato direto com o público, perceber o que é que as pessoas procuravam e quem eram essas pessoas”.
Foi aí que perceberam que as vendas de vinil já ultrapassam as vendas de CDs, mas há também novos clientes, da nova geração. Sérgio Milhano conclui que isso “traz alguma felicidade”, porque quer dizer que há procura.
Questionado sobre se o nicho do vinil poderá levar a que tendencialmente o CD desapareça, Milhano admite que tal poderá acontecer. Só deverão sobreviver algumas edições especiais de CDs, porque “o colecionismo irá acontecer sempre”. Mas o editor discográfico, conclui: “o CD normal vai desaparecer”.
Pode parecer contraditório, mas quando perguntamos a Sérgio Milhano sobre o atual estado da música em Portugal, o editor discográfico indica que “nunca se gravou tanto como agora, nunca houve tanta música, nunca saíram tantos novos artistas” e termina a apontar que nunca viu “tantos artistas portugueses a internacionalizarem-se”.
Dez anos com festa em palco
Nascida em 2009, a editora independente PontoZurca vai assinalar a sua primeira década de vida com dois concertos, um de Aline Frazão, outro dos portugueses The Soaked Lamb, a banda do escritor Afonso Cruz.
Os espetáculos estão marcados para o Cine Incrível Almadense, em Almada, nos dias 8 e 9 de outubro, às 21h30. A entrada para cada concerto é de dez euros, mas há a hipótese de comprar bilhete duplo para os concertos por 15 euros.
“Na sexta-feira, dia 8, temos a Aline Frazão, com a celebração do disco Movimento que foi editado por nós e que será reeditado em vinil em breve. Depois no dia 9, sábado, é o concerto de apresentação do disco dos The Soaked Lamb “Two to Two””, explica Sérgio Milhano.
Depois da “bomba”, como chama Sérgio Milhano à pandemia que parou o mundo dos espetáculos, o desejo agora é que “as coisas retomem de forma gradual, o mais rápido possível”, deseja este editor também responsável pela produção de espetáculos.