A história de uma mãe de 92 anos e do seu filho de 63 que foram encontrados mortos no apartamento em que viviam em Lisboa obriga-nos a uma profunda reflexão sobre a solidão, sobre o abandono dos nossos velhinhos.
A verdade é que o fenómeno da solidão não é exclusivo dos idosos.
Efetivamente, num estudo recente da Gallup foram os jovens que evidenciaram mais situações de solidão por comparação com os mais velhos. E isto recorda-me uma situação vivida há cerca de 3 anos, em que numa conversa com um grupo de jovens do 10 ano de catequese, quando perguntei quem jantava com os pais, eis que num grupo de 18 jovens, apenas 3 disseram que faziam as suas refeições na companhia dos familiares e os demais não jantavam com aqueles por virtude de preferirem comer em frente ao computador ou em frente à televisão. Entretanto, fomos conversando de modo que percebessem quão importante é estar junto dos outros, quão importante é conversar, escutar, perceber a importância da “ruminação da vida” e da gratuidade dos gestos.
Quantas vez nos deparamos com pessoas extraordinariamente talentosas e sabedoras, mas em que persiste uma grande dificuldade em praticar “o exercício da atenção como hospitalidade daquilo que o outro é”. Constatamos que “aprendemos tantas coisas na vida, temos cada vez mais uma escolaridade dilatada no tempo, mas somos cada vez mais analfabetos emocionais”.
A minha querida avó partiu para a eternidade, aos 97 anos de idade, num dos hospitais da capital e apenas desejo que não se tenha sentido só, abandonada pelos seus, quando em casa recebia todo o carinho e afeto da família. Quero acreditar que naquele hospital todos lhe tenham prestado, bem como aos demais utentes, a atenção e o afeto devido, pois só uma cultura do cuidado e do humanismo é capaz de suportar o sofrimento.
Não há pessoas, nem sociedades perfeitas, mas urge, cada vez mais refletir sobre o caminho que estamos a trilhar neste mundo que pretende uma resposta no imediato sem que a mesma venha acompanhada da devida ponderação. E não se pense que a ponderação é uma justificação para não agir. Não! O ato de ponderar permitirá perceber o passado, alcançar o futuro para uma melhor resposta no presente que acontecerá.
Quanto aos nossos velhinhos, temos, agora, o “Estatuto da Pessoa Idosa: para um envelhecimento ativo, digno e valorizado por todos” que não é tudo, mas é um caminho que se inicia e que não olvida que somos “um dos países mais envelhecidos do mundo e aquele que, na União Europeia, está a envelhecer com maior rapidez”.
Acompanhamos o entendimento seguindo o qual “o futuro precisa de líderes com maior consciência da vulnerabilidade da terra e dos seus moradores, capazes de dialogar com as necessidades reais das pessoas, mais empáticos do que autoritários”. Ora, e serão esses líderes que cuidarão da casa comum, com um verdadeiro espírito de serviço, de fidelidade, e que tudo farão para concretizar políticas que cuidarão dos nossos velhinhos, especialmente dos mais vulneráveis. Assim será!