O Arsenal perdeu com o Porto, num jogo a contar para a primeira mão dos 'oitavos' da Liga dos Campeões. Olhando para a tabela classificativa dos gunners na Premier League, o feito dos rapazes de Sérgio Conceição só sai engrandecido. Os londrinos não perderam qualquer jogo desde 20 de janeiro e apenas numa ocasião o jogo acabou com a diferença mínima de golos. Ou seja, são oito partidas consecutivas a vencer (descontando o jogo no Dragão).
A mentalidade vencedora, que tem faltado ao Arsenal dos últimos anos, parece ter evoluído para dar lugar a uma equipa com veia goleadora, esmagadora. Há não muito tempo, o Arsenal bateu o Crystal Palace, por 5-0, e marcou seis golos na casa do West Ham. A chapa 5 voltou a ser levantada contra o Burnley, em meados de fevereiro.
Seguiu-se o jogo da Liga dos Campeões no Dragão.
Num jogo sem qualquer remate enquadrado com a baliza, uma estatística anormal para uma equipa que chega ao último terço com tranquilidade (e afinação), o Arsenal sofreu um golo tardio que deu a vitória aos dragões.
Apesar desse desaire, a derrota não abalou a vontade dos gunners de marcar e marcar e marcar. A derrota serviu de combustível para a formação londrina que está na corrida renhida pelo título de campeão inglês. E o regresso à Premier League ficou marcado por mais uma goleada, desta vez por 4-1 contra o poderoso Newcastle, no Emirates. A mais recente goleada foi contra o último classificado da liga, o Sheffield United. Os arsenalistas marcaram seis golos e não permitiram que o mais aflito dos clubes marcasse qualquer golo.
O Arsenal tem, neste momento, o melhor ataque da Premier League, com 70 golos marcados em 28 jornadas (89 no total da época, em 39 jogos, com 35 golos sofridos). O título fugiu no ano passado e agora a equipa de Mikel Arteta volta a colocar o emblema do norte de Londres também no norte (ou topo) da tabela classificativa. O empate entre Liverpool e Manchester City permitiu que o Arsenal saltasse para o topo da classificação, depois da vitória, por 2-1, sobre o Brentford.
O City está com 63 pontos, enquanto o Arsenal garante a liderança com 64 pontos, a par do Liverpool. Os gunners têm mais golos marcados e, por isso, têm vantagem sobre a formação de Anfield.
Pólvora seca ou a história habitual?
No jogo no Estádio do Dragão, o Arsenal foi incapaz de fazer qualquer remate à baliza de Diogo Costa. De acordo com a ESPN, foi a primeira vez que isto aconteceu desde 2022, numa partida com o Nottingham Forest a contar para a FA Cup.
Outro facto curioso é que o Arsenal não vence em jogos a eliminar da Liga dos Campeões desde 2015. A formação londrina procura, agora, desfazer a praga que não lhes permite ter sucesso na Europa. Como é que se explica esse afrouxamento de uma equipa que tem tanto sucesso numa das melhores ligas de futebol do mundo?
Vamos olhar para o jogo mais recente. Segundo a ESPN, o 11 inicial dos gunners, em conjunto, arrecadava um total de 16 jogos em partidas de mata-mata, todos eles de Kai Havertz, que também já jogou pelo Chelsea. Do FC Porto, só Pepe conta com 47 jogos em jogos a eliminar do torneio.
Deixando as estatísticas e voltando ao jogo, o Porto pressionou e o Arsenal foi incapaz de sair a jogar. Depois de 11 golos contra o West Ham e o Burnley, os londrinos não conseguiram concretizar e aproveitar as oportunidades como em jogos passados.
A pressão está toda do lado do Arsenal, mas há um aspeto muito importante: vão jogar em casa, onde o FC Porto nunca ganhou ou marcou qualquer golo (na última vez por lá, os portistas perderam por 0-5...).
No Emirates, sem a alma do Highbury é certo, o Arsenal goleou o Newcastle, oitavo classificado da liga, venceu o Liverpool, atual líder, por 3-1, e marcou cinco golos ao Crystal Palace, que ocupam a 14ª posição da tabela classificativa. Seja importante este registo ou não, a pressão e as odds estão do lado arsenalista. Haverá fome para marcar ou serão novamente manietados pela teia de Conceição?
O FC Porto não foi constante nos últimos jogos longe do Dragão. No dia 29 de fevereiro, venceu por 2-1 nos Açores, com o Santa Clara, e empatou com o Gil Vicente. Indo mais atrás, o Arouca venceu os dragões por 3-2. Em janeiro, os dragões foram a Faro vencer o Farense por 3-1.
Por outro lado, em casa, o Porto goleou o rival Benfica com cinco golos, apesar da época intermitente. Se calhar não se previa um resultado tão rechonchudo por ter faltado, na presente temporada, uma veia mais goleadora aos dragões. Por isso tudo, o Porto pode ser surpreendente como foi na primeira mão dos oitavos de final. O Arsenal era o favorito, mas quem vai em vantagem para Londres é a formação da cidade invicta.
“Faltou ameaça, agressão e mais propósito. Conseguimos fazer melhor”, prometeu o treinador Mikel Arteta, depois da partida da primeira mão. Resta saber se as goleadas do Arsenal vão fazer a diferença na moral e no jogo contra os dragões.
O sistema de jogo do Arsenal
A formação londrina é a primeira equipa inglesa a ganhar três jogos seguidos fora de casa por cinco golos ou mais e não mostra sinais de querer abrandar.
Para além da capacidade de jogo coletivo, o Arsenal conta com algumas estrelas no plantel, como Martinelli, Bukayo Saka e Martin Odegaard. Martinelli corre e esquiva-se dos adversários como uma folha a ser levada pelo vento e Saka consegue jogar em várias posições, adaptando-se ao que a equipa precisa e mantendo sempre a bola no pé. Odegaard, para além de ser capitão de equipa, tem uma capacidade posicional excelente e arranja sempre espaço para receber a bola e distribuir.
Estas qualidades dos jogadores-chave levam o Arsenal mais longe. Por exemplo, se as equipas colocarem 10 homens atrás da bola, num regime muito defensivo, os gunners conseguem cortar caminho até à baliza e deslizar entre os defesas. As triangulações na grande área, algo que os jogadores de Mikel Arteta treinam muito, fazem com que os mesmos consigam encontrar espaços. E com Martin Odegaard a distribuir o jogo torna-se mais difícil correr mal...
Então, o que é que aconteceu com o FC Porto? Os portugueses não pressionaram à frente, mas também não ficaram encolhidos atrás. A pressão acontecia no meio-campo e isso impedia os jogadores do Arsenal de sair para o ataque com qualidade. Para além disso, a organização defensiva dos dragões não permitia que o Arsenal praticasse com qualidade o seu estilo de jogo no último terço.
Isto traduz-se, lá está, nos tais zero remates enquadrados com a baliza. Contudo, o Arsenal parece estar num ritmo avassalador e com vontade de quebrar a maldição da Liga dos Campeões.