"Desta vez não tem culpa nenhuma". É desta maneira que os socialistas tentam defender o ministro dos Negócios Estrangeiros, após a confusão gerada em torno do modo de participação do Presidente do Brasil nas comemorações do 25 de Abril, na Assembleia da República.
Depois de há duas semanas João Gomes Cravinho ter dado a certeza que Lula da Silva iria discursar na sessão solene, no PS é salientado que na origem desse anúncio está outro. O anúncio do Presidente da República, há dois meses, em plena passagem de ano, em Brasília, onde garantiu que a visita do homólogo brasileiro a Portugal iria culminar "na participação na cerimónia do 25 de abril".
Porfírio Silva é um dos dirigentes nacionais do PS que, em declarações à Renascença, critica abertamente Marcelo Rebelo de Sousa. "Se Gomes Cravinho, eventualmente, cometeu alguma 'gaffe' foi dizer aquilo que o Presidente da República já tinha dito muito antes".
Ou seja, se Cravinho esteve mal nesta história, para o PS Marcelo não esteve melhor, com Porfírio Silva a dizer que "se eu fosse ministro dos Negócios Estrangeiros não teria dito aquilo, mas na realidade só se limitou a repetir uma coisa que o Presidente da República já tinha dito anteriormente".
Membro do Secretariado Nacional do PS, Porfírio Silva assume que Cravinho foi longe demais, mas não o deixa isolado nas críticas. "Se nós dizemos que o ministro dos Negócios Estrangeiros não devia tentar marcar a agenda do Parlamento, a única coisa que podemos concluir é que o Presidente da República também não devia tentar marcar a agenda do Parlamento".
O dirigente nacional socialista remata dizendo que "se algum deles fez isso, fizeram ambos, se algum deles fez isso, ambos não deviam ter feito" e que "todos os agentes políticos em Portugal têm um papel próprio na democracia portuguesa, têm regras próprias e ninguém impõe ao Parlamento o seu próprio método de funcionamento".
Entre os socialistas vinga agora esta versão de que Gomes Cravinho só deu gás a algo que já estava anunciado pelo Presidente da República. Um outro dirigente nacional socialista diz à Renascença que percebe que "os partidos da oposição só queiram bater" no ministro e é assumido que cometeu um erro.
"Aquilo que ele não fez foi a ressalva de que a organização da sessão solene do 25 abril é da competência exclusiva do Parlamento" diz esta fonte, que remata de modo sibilino:"mas isso o Presidente da República também não fez", salientando que "quem fala primeiro", ou seja quem anunciou o discurso de Lula da Silva no Parlamento foi "o Presidente da República, em Dezembro".
No mesmo sentido vai um outro dirigente nacional e deputado socialista. "A ideia original é do Marcelo, a 'gaffe' não foi do Cravinho, foi do Presidente da República que fez o convite". A mesma fonte admite ainda que o ministro parece atrair problemas. "Conseguiu mais uma vez arrastar-se para uma situação destas. É o que é".
Como ministro dos Negócios Estrangeiros, Gomes Cravinho tem somado polémicas. Um dos últimos tinha sido há um mês com o anúncio precipitado de envio de tanques Leopard 02 de Portugal para a Ucrânia, que teve de corrigir no mesmo dia. E antes tinha estalado a polémica do Hospital Militar de Belém.
O mesmo dirigente nacional do PS admite que "é uma sucessão de coisas", mas que nesta questão da participação do Presidente brasileiro na sessão solene do 25 de abril, Cravinho "não tem culpa nenhuma".
Lula da Silva irá realizar uma visita de Estado a Portugal em abril, poderá estar presente na sessão comemorativa do 25 de Abril no Parlamento, mas não está previsto discursar nessa sessão, mas sim numa sessão de boas-vindas que lhe será dedicada.