O objetivo do PCP tornou-se claro: ver com os próprios olhos as consequências da poluição no Tejo e tornar este um dos pontos altos das jornadas parlamentares, que estão a decorrer no distrito de Portalegre.
Às 15h00 saiu, do cais de Vila Velha de Ródão, o barco que transportou os deputados comunistas e os jornalistas para um passeio no rio. A bordo seguia o líder parlamentar, João Oliveira, que foi ouvindo as queixas do único pescador que decidiu dar a cara e a voz pelos protestos.
Francisco São Pedro, aos comandos do “Lobo do Mar”, é pescador de lagostim e, há três anos, que faz denúncias sobre descargas poluentes no rio Tejo, sobretudo nesta zona entre os distritos de Portalegre e Castelo Branco.
Sem papas na língua, Francisco garante que, por baixo das Portas de Ródão a água “às vezes é preta quando há descargas”, argumentando que “mataram o rio aquelas malditas fábricas”.
Num dia de frio intenso, a comitiva dos comunistas seguiu viagem passando pelas Portas de Ródão com Francisco São Pedro a desabafar que “ainda bem que não choveu, porque se chovesse ainda não era desta vez que resolviam este problema”.
Visivelmente transtornado, o pescador garantiu que já viu o Tejo castanho “dezenas de vezes, desde a bacia de Vila Velha de Ródão até à barragem do Fratel” e que “nunca ninguém atuou”.
O líder parlamentar do PCP, João Oliveira, viu-se sem grandes argumentos que não fossem um “temos de continuar a lutar”.
Perca, carpa e lagostim? Não há
Fernando Inácio sentou-se à frente de João Oliveira nesta viagem de meia hora pelo rio. É dono de um restaurante que serve peixe numa freguesia de Nisa, em Arneiro.
O próprio apanhava no Tejo o que servia à mesa, mas deixou de fazê-lo há três anos porque ali “o peixe não sobrevive”. E assim teve de socorrer-se “de um pescador que pesca em Malpica do Tejo, no distrito de Castelo Branco” e é ele agora que fornece o restaurante.
Há pouco tempo, Fernando Inácio podia pescar “muitos quilos de peixe que dava para várias refeições”, mas de repente “apareceram milhões de peixes mortos”. A perca e a carpa deixaram de aparecer.
E de quem é a culpa? Fernando é cauteloso e diz que não há certezas e “não se pode apontar o dedo a ninguém”. Certo, certo é que nesta zona das Portas de Ródão vinham pescadores de Abrantes “para pescar lagostim, agora não se vê uma boia sequer”.
Segundo os relatos ouvidos pelos deputados do PCP há, pelo menos, três anos que a poluição é contínua do Tejo. Para os comunistas a solução passa por uma fiscalização mais próxima e mais permanente. O líder parlamentar, João Oliveira diz que essa fiscalização tem de acontecer “mesmo quando não há sinais mais visíveis de poluição” e que a inspeção tem de ser feita para garantir que “a qualidade da água é mantida e são cumpridas as regras ambientais”.
Para o dirigente comunista, não é aceitável que a produção industrial ponha em causa regras de qualidade ambiental que “estão fixadas e que têm de ser cumpridas por toda a gente para garantir que o ambiente não é prejudicado”.
João Oliveira conclui que as consequências “são em dominó”, ou seja, o que se passa no Tejo “atinge os pescadores e os restaurantes à volta” e, a partir de agora, os deputados comunistas esperam que “se tomem medidas imediatas para que o problema possa ser resolvido”. Por exemplo, espera que haja “investimento nos recursos e nos meios de quem tem a responsabilidade de fiscalizar neste caso a APA”, a Agência Portuguesa do Ambiente.