Cordeiro assado e pudim de vinho do Porto. “Um mimo para vizinhos” com necessidades especiais. É uma oferta de uma quinta do Douro que se preparava para uma época “excecional” e foi adiada pelo novo coronavírus.
O almoço da Pascoela, ou seja, o almoço do próximo domingo, vai ser especial para 58 utentes dos lares de Sabrosa e de Alijó da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM).
A iniciativa é da Quinta da Avessada, em Favaios, Alijó. Esta quinta do Douro, onde os turistas podem fazer visitas às vinhas, à enoteca interativa e refeições, já tinha tudo preparado para o arranque da época turística e foi obrigada a parar devido à pandemia provocada pelo novo coronavírus.
Com as arcas repletas de alimentos, Luís Barros, o proprietário da quinta, teve a ideia e decidiu dar “um mimo aos vizinhos que estão institucionalizados”.
“Estávamos com tudo preparado, íamos ter um ano excecional, estávamos a superar os dez mil visitantes por mês, algo fantástico, pelo que tínhamos as nossas arcas frigorificas, a mercearia, tudo já preparado para o arranque e de repente cai esta bomba”, conta à Renascença.
E foi aí que Luís Barros se interrogou: “O que é que vamos fazer com todos estes alimentos, com tantos produtos que aqui temos?”. E o próprio encontrou a resposta. Com a Pascoela à porta, decidiu proporcionar “um miminho” às pessoas com necessidades especiais.
“Vamos fazer uma refeição diferente. Vamos fazer um cordeiro assado, com batata e arroz de forno, pudim de Vinho do Porto e leite creme”, descreve.
As tradicionais padarias de Favaios também se associaram à iniciativa e vão oferecer o pão quente. E uma empresa de estufas vai oferecer morangos.
A refeição vai ser preparada pelos dois ‘chefs’ da quinta e por dois ajudantes de cozinha da propriedade que se disponibilizaram para regressar ao serviço no próximo fim de semana.
“É um staff muito reduzido. Está tudo em casa. Nós estamos em lay-off, mas eles disseram logo que sim e, então, vamos oferecer o almoço a estas pessoas que são nossas, são cá da terra”. A refeição é confecionada na quinta e é depois entregue nas duas instituições.
De acordo com Luís Barros, a iniciativa também ajuda a propriedade a dar uso aos "stocks" existentes porque a perspetiva de abertura é só em julho.
Reservas de 10 mil turistas por mês e... quinta vazia
A propriedade reabriu no dia 10 de março, após a pausa de inverno, ainda recebeu dois pequenos grupos de visitantes, mas fechou no dia 16, por causa da Covid-19.
“Uma machadada, uma desgraça, uma bomba”, assinala Luís Barros.
O turismo no Douro é sazonal. O proprietário da Quinta da Avessada, considera que é impossível recuperar o prejuízo, mas acredita que se conseguirem “trabalhar de junho a novembro, dá para recuperar parcialmente, ou seja continuávamos a amealhar para conseguir manter toda a equipa durante o inverno de 2021”.
“Não dá para recuperar todo o investimento feito, que é sempre a renovação dos atoalhados e louças, mas dá para manter a equipa e os fornecedores com tudo saldado e para começarmos o novo ano em força”, explica.
Este era o ano com mais reservas, frisa Luís Barros, “já estávamos com dificuldades de calendário para albergar tantos turistas, estamos a falar em mais de 10 mil turistas por mês”.
Entre 15 de março de 2019 e 15 de janeiro de 2020, esta quinta duriense recebeu à volta de 80 mil visitantes. A maior parte destes turistas vem do estrangeiro e chega ao território nos barcos que cruzam o rio.
O proprietário da Quinta da Avessada recua a 2007, um ano “muito mau para o turismo” no território, porque as pessoas “não tinham dinheiro para viajar” e “foi preciso namorar os turistas”, ressalvando que, a partir daí, o mercado, principalmente o internacional, “foi sendo conquistado”.
“Foi sempre a crescer e chegamos a 2020 e a sensação é de voltarmos a 2007. Olharmos para as nossas quintas, com o investimento feito, e ninguém. É um nó no estômago que se sente neste momento”, explicita.
Douro sempre foi e é uma terra de luta e vai vencer
“Temos um mercado que sabemos trabalhar, que conhecemos muito bem e rezamos para que surja um comprimido para combater este vírus”, afirma o responsável, garantindo empenho em manter os 42 trabalhadores, cuja média de idades se situa nos 25 anos”.
A quinta já está a trabalhar, em contacto permanente com os operadores e a apostar num plano de contingência, segurança e higiene.
“É preciso reconquistar a confiança e assegurar aos turistas que, quando vierem, têm todas as condições de higiene e segurança e que não faltará o álcool, por exemplo. Temos uma quinta para 300 pessoas e vamos receber apenas 150”, explica.
Os planos passam por reabrir “mesmo a meio gás ou a um quarto de gás em julho. E se o setembro e outubro for bom, nós continuamos a aguentar a tropa toda, como eu chamo à equipa”.
É que, segundo Luís Barros, “o lay-off é muito bom, é fantástico, mas tem que ser temporário porque 30% do ordenado sai da empresa e as empresas aguentam até certo ponto, porque o que nós vemos é que está sempre a sair e não entra. O nosso plano é por três meses, podem ir ao quarto, mas depois não podemos mais, porque é uma morte anunciada”, desabafa.
O proprietário da Quinta da Avessada, verdadeiro apaixonado pelo Douro, afirma que a “região – o Douro está sempre a ser posto à prova - meios rurais, como o nosso, Favaios tem mil habitantes - sempre a lutar para conquistarmos algum lugarzinho na economia nacional e conseguimos”, concluindo que “a terra de luta vai vencer”.