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Países como a África do Sul, Dinamarca ou Reino Unido, onde o impacto da variante Ómicron da Covid-19 está mais avançado, podem ser um bom barómetro para o que pode acontecer em Portugal nas próximas semanas.
A tendência parece indicar que a "explosão" do número de novos casos de Covid-19 não é acompanhada por uma subida do número de mortes. Mas com o número de infeções a subir e uma faixa importante da população em isolamento, a pandemia está a trazer novas dificuldades e desafios ao nível da resposta dos cuidados de saúde ou em setores que podem estar em risco de paralisar devido à falta de funcionários.
O Reino Unido teve mais de quatro vezes mais casos de Covid-19 no dia 29 de dezembro de 2021 do que tinha tido no mesmo dia do ano anterior.
Os números astronómicos de novas infeções devem-se à predominância da variante Ómicron, que tem mostrado ser muito mais contagiosa.
No dia 29 registaram-se 221 mil novas infeções no Reino Unido, comparando com 52 mil no ano anterior.
Contudo, o número de mortos não acompanha esta evolução. Enquanto na quarta-feira passada morreram 68 pessoas de Covid-19, no mesmo dia do ano passado o número de óbitos foi de 458, ou seja, enquanto o número de novos casos aumentou cerca de quatro vezes, o número de mortos é quase sete vezes inferior.
O aumento do número de casos está a ameaçar a resposta dos serviços de saúde, uma vez que também os profissionais de saúde e funcionários hospitalares estão a faltar ao trabalho por estarem infetados ou em isolamento profilático. A situação também está a atingir o departamento de Bombeiros de Londres, que na semana passada enfrentava um nível de baixas laborais "sem precedentes" por causa da pandemia.
A época de Natal também deixou milhares de passageiros em terra, devido aos casos de Covid nas tripulações que levaram ao cancelamento de centenas de voos. Em Portugal, a TAP também confirmou que alguns voos foram afetados.
Mais contagiosa, mas menos grave?
Na Dinamarca, onde os últimos dias também viram recordes de novos casos, começa a formar-se o consenso de que a nova variante Ómicron é menos grave que as anteriores.
Tal como em Portugal e noutros países, os números de infetados estão a aumentar a olhos vistos, mas os números de internamentos e de mortos são muito inferiores a outros picos da pandemia.
Por exemplo, esta quinta-feira registaram-se mais de 21 mil novas infeções na Dinamarca e morreram 10 pessoas de Covid. Trata-se do segundo dia com mais infeções naquele país, apenas atrás dos valores de quarta-feira. Já em Portugal, os números desta quinta-feira são 28 mil novos casos e 16 mortos, mas deve ter-se em conta que a população da Dinamarca é de apenas 5,8 milhões de pessoas.
Contudo, os números desta quinta-feira na Dinamarca mostram que há menos internamentos no total, incluindo menos nos cuidados intensivos.
“Se compararmos com o mesmo período do ano passado, tínhamos cerca de 4.500 infetados por dia, resultando num máximo de 900 internamentos. Comparando os números de internamentos, é claro que já não estamos a adoecer tanto da infeção. Claro que isso também se deve às vacinas”, afirma o especialista dinamarquês, Eskild Petersen, professor de doenças infeciosas no Departamento de Medicina Clínica da Universidade de Aarhus, citado pelo jornal Berlinske.
Ainda assim, Petersen diz que é expectável que o número de internamentos suba ao longo dos próximos dias, por causa do número de novos casos, que atribui aos ajuntamentos do Natal, e mostra-se curioso para saber se a passagem de ano terá o mesmo efeito.
Cautela, por favor
Na África do Sul, onde se pensa que a variante Ómicron possa ter começado, tudo parece indicar que o pico das infeções já passou, alimentando as esperanças de que na Europa também se assista a uma vaga grande, mas de curta duração.
No dia 17 de dezembro, a África do Sul atingiu as 23.400 novas infeções, mas apenas cinco dias mais tarde o valor tinha descido para 17.400. Na quarta-feira, dia 29, não houve sequer 10 mil novos casos. Acresce que o pico de novas infeções não foi acompanhado de um aumento proporcional de internamentos nem de mortes.
Alguns especialistas, porém, preferem adotar a cautela na interpretação destes dados.
“Ainda é cedo, e as práticas de saúde pública são locais. Temos de ter cuidado para não extrapolar o que estamos a ver na África do Sul para todo o continente, nem para o mundo”, disse ao jornal britânico “The Times” o diretor do Centro Africano para Controlo de Doenças, John Nkengasong.
O mesmo tom é usado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que diz que não existem dados suficientes para tirar conclusões. Segundo os especialistas da organização, que esta quinta-feira deram uma conferência de imprensa sobre o assunto, a partir de Genebra, a baixa incidência de doenças graves na África do Sul e na Europa podem dever-se a uma população mais jovem, no primeiro caso, e a altas taxas de vacinação, no segundo.