Erdogan adia “limpeza” da Síria até retirada das forças americanas
21-12-2018 - 14:34
 • Filipe d'Avillez com agências

Presidente da Turquia diz que vai "limpar" a Síria tanto de militantes curdos como de elementos do autoproclamado Estado Islâmico. Milícias curdas prometem defender-se de potenciais agressões turcas.

O Presidente da Turquia anunciou esta sexta-feira que vai adiar a invasão do Norte da Síria até que as forças americanas se retirem, conforme foi anunciado esta semana pelo Presidente dos EUA, Donald Trump.

No seu discurso, Recep Tayyip Erdogan reafirmou a sua promessa de “limpar” a Síria de militantes curdos e de terroristas do autoproclamado Estado Islâmico.

Grande parte do nordeste da Síria está ocupada pelas Forças Democráticas da Síria, uma coligação de milícias cristãs, árabes e curdas, em que os curdos do YPG formam a grande maioria e que é apoiada pelos Estados Unidos.

A Turquia acusa o YPG de ser uma dependência do PKK, que há dezenas de anos leva a cabo uma luta armada contra Ancara, na Turquia, e já invadiu uma parte da Síria, em Afrin, para a “limpar” destes militantes.

A Turquia sempre criticou o apoio de Washington aos curdos na Síria e Erdogan vê com bons olhos a retirada dos cerca de 2.000 soldados americanos.

Mas os curdos e seus aliados locais prometem resistir a qualquer invasão turca, recordando que esta apenas beneficiará o autoproclamado Estado Islâmico (ISIS), que continua a existir e ocupa uma pequena bolsa de território perto do Rio Eufrates. Ainda esta sexta-feira os terroristas do grupo radical lançaram um ataque contra elementos das Forças Democráticas da Síria perto da aldeia de Abu Khaser, levando à intervenção de meios aéreos da coligação ocidental, por enquanto ainda liderada pelos Estados Unidos.

França já reagiu, lamentando a decisão americana e prometendo manter-se no terreno para apoiar as FDS.

“Numa altura em que estamos envolvidos em ferozes batalhas contra o terrorismo no seu último reduto, bem como contra elementos infiltrados nas áreas já libertadas”, lê-se num comunicado do comando-geral das Forças Democráticas da Síria, “a decisão da Casa Branca de se retirar no norte e do leste da Síria vai afetar de forma negativa a campanha de combate ao terrorismo e dará aos terroristas e seus apoiantes o impulso para recuperar e levar a cabo nova campanha terrorista na região”.

O comunicado, publicado quinta-feira, assegura a comunidade internacional de que a luta contra o terrorismo ainda não terminou e que “os mercenários do Estado Islâmico” ainda não foram totalmente derrotados.

Esta sexta-feira fonte das FDS disse à Reuters que qualquer invasão da Turquia prejudicará o combate ao ISIS, pois será necessário mobilizar as milícias para defender a retaguarda, exposta ao avanço turco.

A prometida intervenção da Turquia poderá desestabilizar ainda mais a frágil situação na Síria, abrindo uma nova frente de conflito no nordeste e pressionando as únicas forças que continuam a combater o pretenso Estado Islâmico no terreno, depois de terem conseguido libertar o resto da região que outrora estava dominada pelos terroristas islâmicos.