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A Comunidade Vida e Paz está, neste momento, sozinha na distribuição de alimentos a quem vive nas ruas de Lisboa. A instituição, que costumava servir 430 refeições por noite, está agora a entregar 800. Esta carência deve-se à pandemia de Covid-19 e às instruções dadas pelas autoridades para que as pessoas fiquem em casa. As outras organizações que costumavam fazer este trabalho retiraram-se do terreno devido à falta de voluntários.
Os primeiros sinais surgiram há uma semana. Nuno Fraga, voluntário da Comunidade Vida e Paz, saiu para fazer a sua volta e encontrou um cenário desolador: “Em Lisboa, onde existirão cerca de 400 pessoas em situação de sem-abrigo, existia também um número considerável de instituições que iam mitigando as carências. Hoje só há uma, estamos a regressar o passado. Hoje, vi fome em Lisboa.”
Nessa noite, Nuno Fraga e a sua equipa tiveram que entregar 90 refeições no Saldanha, onde costumam servir 30. Em Santa Apolónia, onde habitualmente encontram 15 a 20 pessoas, encontraram 40. O mesmo aconteceu no Rossio e na Estação do Oriente.
Para que a comida chegasse para todos, cada refeição foi dividida em três e mesmo assim, não foi suficiente. “As pessoas corriam desesperadamente para as carrinhas em busca de algo. Tivemos pedidos para não as deixarmos, pois não teriam mais nada se não viéssemos”, revela este voluntário.
Há quem cozinhe, mas não há quem distribua
Algumas instituições continuam a servir as pessoas sem-abrigo ou as mais carenciadas, mas não distribuem refeições na rua. É o caso da Associação João 13, que funciona em instalações cedidas e equipadas pela Câmara Municipal de Lisboa, prestando um apoio diferenciado em relação ao que é dado na rua.
A própria Comunidade está a receber ajuda de duas outras instituições, a Norfátima e a Associação Casa, que fornecem refeições cozinhadas. Mesmo assim, continuam a precisar de mais doações. “Muitos pessoas e várias empresas têm colaborado com o envio de alimentos que nos têm permitido alimentar toda a gente” – disse à Renascença Tânia Antunes, da Comunidade Vida e Paz.
“No entanto, se o estado de emergência se prolongar por muito tempo, este serviço só pode continuar se as doações aumentarem.”
Os voluntários da Comunidade Vida e Paz têm mantido a sua ação, permitindo a habitual realização de quatro voltas por noite. “Só que, em vez de equipas de oito ou nove pessoas, estão agora a trabalhar com equipas de três ou quatro. Uma forma de tentar preservar quem ajuda”, explica Tânia Antunes.
Sem-abrigo perderam todos os recursos
Para agravar a situação, as pessoas em situação de sem abrigo estão agora privadas das poucas fontes de rendimento que costumavam ter em tempos normais.
“Num dia normal arrumariam uns carros, teriam uns trocos, os cafés ou os restaurantes ofereceriam uma refeição. A vizinhança iria à rua e aproveitaria para dar uma ajuda”, refere Nuno Fraga. Neste momento, com a maioria da população fechada em casa, nada disso é acontece.
Tânia Antunes deixa ainda um apelo. a instituição precisa de equipamento de proteção pessoal, como máscaras, luvas, desinfetantes, mas também de bens alimentares: leite, iogurtes, recheios para sandes, enlatados, cereais, fruta, legumes, massa, arroz, feijão, entre outros. “As encomendas devem ser feitas online e entregues na sua sede.”
[notícia atualizada às 18h40]