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António Augusto, de 36 anos, trabalha no Hospital de Verín. Reside nos arredores de Chaves, mas a última vez que esteve em casa com os filhos foi no dia 15 de março.
“Optei por ficar aqui, em casa de um colega, para proteger os meus filhos e a minha mulher e também os doentes daqui”, conta à Renascença. “Este vírus não brinca e todos os cuidados são poucos, por isso é que, apesar de estar longe daqueles que amo, neste momento, é o melhor que posso fazer por eles”, afirma.
Em Verín já há casos confirmados de Covid-19, mas o enfermeiro flaviense não contactou com esses doentes. Mesmo assim, prefere prevenir e não arriscar.
“Custa muito estar longe da família, já não vejo os meus filhos há oito dias. É duro e as saudades apertam, mas, quando nos encontramos, a festa vai ser grande”, diz com a voz embargada. Augusto não arrisca uma data para regressar a casa, sabe sim, que está a fazer a melhor opção. “Enquanto isto não estabilizar, não vou”, afirma.
O enfermeiro está em contacto diário com a família e serve-se do Skype para se “mostrar e ver a família”. “Quando desligamos é um aperto na garganta até porque o meu mais pequeno, com quatro anos, está sempre a dizer que está à minha espera para jogar à bola”, conta.
Cuidar dos mais velhos
Sem se deslocar à sua terra natal, em Boticas, há uma semana e meia, José Silva, de 24 anos, declara que, apesar das “muitas saudades” da namorada, só vai regressar quando a situação estiver mais calma. O enfermeiro trabalha num lar de idosos na Agudinha e, apesar de as coisas por ali estarem calmas, prefere não arriscar.
“Se as coisas em Espanha não estão bonitas, em Portugal não estão melhores e eu não posso ser egoísta ao ponto de, para matar saudades, colocar em risco estes velhinhos que cuido”, afirma, acrescentando que estes “são os mais vulneráveis à doença”.
Também Paula Alves, de 30 anos, a trabalhar no hospital de Ourense já não vai a casa há 10 dias. “Desde que as coisas se começaram a complicar aqui, nunca mais fui a casa”, conta à Renascença. E não é por causa do controlo na fronteira que Paula decidiu ficar por Espanha. A opção assenta na necessidade de preservar os pais, com quem vive na zona de Vidago.
“Os meus pais já têm mais de 70 anos e eu não devo contactar com eles, porque nunca se sabe se eu estou afetada”, refere a enfermeira que aceitou “a oferta de um pequeno estúdio por parte de um casal de médicos” para permanecer na Galiza.
A rotina da enfermeira restringe-se ao hospital, onde o ritmo “é alucinante e falta material” e ao pequeno estúdio, onde repousa e procura “restaurar as forças”. “A primeira coisa que faço, ao chegar a casa, é colocar a roupa a lavar e tomar banho, depois comer qualquer coisa e descansar”, conta.
A enfermeira Paula sabe bem que “os próximos tempos serão muitos difíceis e vão exigir o empenho e compromisso de todos contra esta terrível praga”.
“É por um bem maior. Todos temos que dar o máximo e o máximo que nos é pedido, a nós enfermeiros, é disponibilidade para servir, sem medo, mas adotando medidas mais severas de prevenção, e a todos que permaneçam em isolamento social, para defender os nossos”, conclui.