Mais de seis em cada 10 portugueses não têm possibilidade de poupar dinheiro ao fim do mês, uma situação semelhante à da Roménia e que é pior apenas na Sérvia, na Moldávia e na Grécia. Esta é uma das conclusões do Barómetro Europeu sobre a Pobreza e Precariedade, lançado esta quarta-feira, que aponta que o salário de metade dos portugueses não cobre as despesas.
Portugal foi incluído na segunda edição deste estudo, uma sondagem da Ipsos realizada para a Secours Populaire Français, uma organização não-governamental que retrata uma situação social preocupante em dez países europeus - Alemanha, França, Grécia, Itália, Moldávia, Polónia, Portugal, Reino Unido, Roménia e Sérvia.
A dificuldade em poupar dinheiro ao fim do mês anda de mão dada com o sentimento de que os salários não chegam para as despesas mensais. Entre os portugueses inquiridos, 8% não consegue chegar ao fim do mês sem ficar sem dinheiro. Têm cada vez mais dificuldades em chegar ao fim do mês e têm medo de cair na precariedade – onde 2% dos portugueses já estão.
Mas a precariedade pode ser mais abrangente do que simplesmente ter dinheiro suficiente para chegar ao fim do mês. Quando questionados sobre a situação financeira atual, 35% dos portugueses dizem que estão numa situação precária, e que uma despesa inesperada pode desequilibrar a balança.
A somar a isto, 40% dos portugueses sentem-se em risco alto de entrar numa situação de insegurança financeira nos próximos meses – um sentimento semelhante - em proporção - às populações francesa e alemã.
Assim, os portugueses, como os restantes europeus, estão preocupados com a sua capacidade de lidar com a inflação nos produtos alimentares (69%), manter um padrão de vida “decente” depois da reforma (64%) e lidar com despesas inesperadas (67%).
Metade dos portugueses também estão preocupados com a capacidade de pagar as contas todos os meses.
Portugueses cortam nas despesas para sobreviver
Em resposta a uma situação em que 35% dos portugueses consideram que o seu poder de compra diminuiu bastante e 88% apontam o aumento de preços como principal razão, os comportamentos também se alteram.
Nos últimos seis meses, 48% dos portugueses já viveram situações como optar por não aquecer a casa, desistir de tratar um problema de saúde, saltar refeições e pedir dinheiro emprestado.
Em Portugal, 12% dos pais de crianças e jovens até aos 18 anos também dizem que já tiveram dificuldades em corresponder às necessidades básicas das crianças, como a alimentação, a saúde, as despesas escolares e comprar roupa.
Mais de um quarto dos pais - 27% - diz ainda que nem sempre comem o suficiente para poder alimentar os filhos, enquanto 28% dos portugueses deixaram de fazer três refeições por dia pelo menos algumas vezes.
93% dos portugueses inquiridos dizem que procuram sempre preços baixos e descontos quando fazem as compras. 11% pede o apoio de organização como a Cáritas para a alimentação.