João Galamba demitiu-se esta terça-feira do cargo de ministro das Infraestruturas, anunciou a tutela. Entretanto, o primeiro-ministro marcou para as 20h45 uma declaração ao país sobre a situação política nacional.
Em comunicado, João Galamba refere que demitiu-se "em prol da necessária tranquilidade institucional".
"Numa altura em que o ruído se sobrepõe aos factos, à verdade e à essência da governação, é fulcral reafirmar que esta Área Governativa, que me orgulho de ter liderado, nunca procurou ocultar qualquer facto ou documento. Demito-me apesar de em momento algum ter agido em desconformidade com a lei ou contra o interesse público que sempre promovi e defendi na minha atuação enquanto governante, tal como foi, detalhada e publicamente, reconhecido pelo senhor primeiro-ministro", lê-se, na mesma nota.
O ministro demissionário reitera os factos que apresentou em conferência de imprensa, no domingo, e voltou a garantir que "sempre entregou à Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP toda a documentação que dispunha".
Considero que a preservação da dignidade e a imagem das instituições é um bem essencial que importa salvaguardar, tal como a minha dignidade, a da minha família e a das pessoas que comigo trabalharam no Gabinete e que foram nestes últimos dias gravemente afetadas. Apresento as minhas desculpas à minha Chefe do Gabinete e às minhas assessoras de imprensa que mesmo sob agressão tudo fizeram para proteger os interesses do Estado e que viram, nestes últimos dias e de modo insustentável num Estado de Direito, a sua dignidade afetada", conclui o comunicado.
Furto de computador e intervenção do SIS
O ministro não sobreviveu às réplicas de mais uma polémica relacionada com a TAP, que resultou no furto de um computador do Ministério das Infraestruturas na sequência da polémica em torno do equipamento eletrónico do Estado que um adjunto de Galamba, entretanto demitido, levou para casa com informações confidenciais.
A demissão é anunciada depois de uma reunião entre António Costa e o Presidente da República que durou quase duas horas, esta tarde. Antes, durante a manhã, o primeiro-ministro já tinha estado reunido com João Galamba para debater a situação governativa no seguimento do caso.
Antes dessa reunião, nas suas primeiras declarações sobre o caso da exoneração do adjunto de Galamba, Costa disse acreditar que o ministro agiu bem num caso inadmissível, que afeta a confiança nas instituições.
O primeiro-ministro garante não ter sido informado do envolvimento do SIS na recuperação de um computador com documentação classificada. Do Governo não saiu qualquer ordem para os serviços de informação, assegurou.
João Galamba é o segundo ministro com a pasta das Infraestruturas a cair em poucos meses. No final de dezembro, Pedro Nuno Santos demitiu-se do Governo, também na sequência de uma polémica relacionada com a TAP, no caso a indemnização de meio milhão de euros a Alexandra Reis.
Galamba tinha sido o escolhido de Costa para substituir Nuno Santos à frente da tutela das Infraestruturas, mas agora, quase quatro meses depois, acabou por não resistir a outra polémica.
Licenciado em Economia na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, Galamba concluiu a parte letiva do Doutoramento em Ciência Política na London School of Economics, tendo lecionado Filosofia Política no departamento de Government.
Foi deputado no Parlamento, desde 2009 até 2019 – altura em que foi nomeado secretário de Estado Adjunto e da Energia no segundo Governo de António Costa.
Antes de suceder a Pedro Nuno Santos, de quem é próximo, era secretário de Estado do Ambiente e da Energia do atual executivo, que foi eleito com maioria absoluta no início de 2022.
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