"A minha vida não foi criada com o BES ou com a minha vinda para o Sport Lisboa e Benfica, em 2001“, declarou esta segunda-feira Luís Filipe Vieira, em audição parlamentar.
Na comissão de inquérito ao Novo Banco, o presidente da Promovalor e do Benfica fala em tentativas de alterar a realidade e garante que não teve qualquer perdão de dívida. Não se projetava qualquer perda para Novo Banco, logo para os contribuintes, sublinha o empresário, que aponta o dedo à crise financeira internacional de 2011.
"Por muito que seja cómodo colarem-me publicamente às perdas do Novo Banco e às perdas dos contribuintes portugueses, tudo isso não passa de uma tentativa de alterar a realidade. Não tive nenhum perdão de capital nem nenhum perdão de juros. Nem eu, Luís Filipe Vieira, nem o Grupo Promovalor", afirmou.
"Cumpri com tudo o que me foi pedido e mais, entreguei todos os ativos, não tive qualquer perdão de juros ou de capital. Mantive o meu aval pessoal e ainda investi mais capital a ajudar a recuperação", sublinhou.
"Digam uma operação de reestruturação feita neste país com as condições tão ou mais vantajosas dos bancos", atirou Luís Filipe Vieira.
Na sua intervenção inicial, na audição que começou pouco depois das 15h00, Luís Filipe Vieira argumentou que "já era um conhecido empresário de renome", primeiro na área dos pneus e depois no imobiliário, quando começou a trabalhar no Benfica, inicialmente como gestor de futebol até à chegada à presidência do clube da Luz.
"No decurso destas etapas, Luís Filipe Vieira já era um empresário de renome e de relevância na área do imobiliário e dos pneus em Portugal", reforçou o presidente da Promovalor e do Benfica.
Nessa altura, frisou, os bancos apoiavam-no, "em particular o então Banco Espírito Santo, que era e sempre foi um dos principais bancos com quem trabalhei, juntamente com o BCP".
"Não houve nenhum perdão"
Luís Filipe Vieira recorda que nesses primeiros anos do século XXI o Benfica encontrava-se numa situação financeira "delicada, como nunca antes tinha vivido na sua história".
O empresário afirma que continuou "a contar com o apoio dos bancos, não por ser presidente do Benfica, mas porque os projetos apresentados mereciam uma análise positiva para serem financiados e eu merecia a confiança dos bancos".
"Desde a sua constituição, o grupo Promovalor investiu em Portugal, Espanha, Brasil e Moçambique em projetos que foram realizados e em ativos que existem. Não são imaginações, são realidades, são factos, são provas, está tudo documentado e auditado, inclusive, pelo Fisco."
"Em 2011, no início da crise económica e financeira com os impactos que todos conhecemos, o valor dos ativos do grupo Promovalor ultrapassava os 754 milhões de euros", frisou.
"Não gastei o dinheiro em iates, aviões ou mordomias"
Entre 2006 e 2017, entre a constituição do grupo Promovalor e o acordo de transferência de 96% do património para um fundo controlado pelo Novo Banco, o grupo pagou mais de 161 milhões de euros em encargos financeiros ao Novo Banco.
"Pagou. Não lhe foram perdoados nem tinham de ser. Não houve nenhum perdão, não houve nenhum facilitismo para com o grupo Promovalor", disse Luís Filipe Vieira.
O empresário afirma que, até 2017, a Promovalor concluiu 28 projetos imobiliários e promoveu a aquisição e desenvolvimento de outros 2020.
Em 2011, os ativos imobiliários detidos pelo grupo comtemplavam o desenvolvimento de projetos com uma expetativa de área bruta de construção superior a um milhão de metros quadrados, elenca.
"Estamos a falar de projetos discutidos com as entidades públicas, analisados pelas instituições financeiras, contratados com experientes e conhecidas equipas profissionais do mercado. Os valores de financiamento obtidos junto das instituições financeiras, em particular do BES, BCP e Caixa Geral de Depósitos, foram utilizados na atividade imobiliária na compra de terrenos e edifícios para serem desenvolvidos do ponto de vista empresarial. Não gastei esse dinheiro nem iates, nem em aviões nem em mordomias. Não desviei esse dinheiro para contas pessoais em Portugal ou noutra parte do mundo", garante Vieira.
"É muito fácil colocar o Luís Filipe Vieira como o grande devedor"
O presidente do Benfica diz que investiu o seu património pessoal no grupo Promovalor para recapitalização do fundo e deixou de ter controlo sobre gestão.
"Apesar do movimento de internacionalização" da Promovalor, a crise financeira de 2011 e as limitações de crédito à atividade imobiliária em Portugal "foram bloqueado, aos poucos, a atividade do grupo e de muitos outros grupos económicos ligados ao setor da construção", sustenta.
"Em face do avolumar da crise internacional, da queda do BES, a partir de agosto de 2014 o grupo Promovalor procurou encontrar uma forma de cumprir com as suas obrigações, em particular com o Novo Banco. Encetou-se um trabalho conjunto da Promovalor com o Novo Banco, cujas soluções desenhadas mereceram o acompanhamento e autorização das entidades de supervisão do Novo Banco, nomeadamente do Fundo de Resolução."
Esse trabalho levou a uma resolução, em setembro de 2017, em que a Promovalor entregou os seus ativos para "pagamento integral das suas dívidas".
"Esta foi a decisão tomada pelo Novo Banco e pelo Fundo de Resolução para pagamento na totalidade das dívidas da Promovalor ao Novo Banco", argumenta Luís Filipe Vieira.
O empresário afirma que é do conhecimento público que outros empresários viram as suas dívidas perdoadas. "Não aconteceu isso comigo. Não tive nenhum perdão de capital, nem de juros, nem eu nem o grupo Promovalor. É muito fácil colocar o Luís Filipe Vieira como o grande devedor que não cumpriu, é muito cómodo para muito boa gente colocar o presidente do Benfica como grande devedor da banca que não cumpriu, cómodo para uma certa sociedade que precisa de encontrar culpados, mas só certos culpados", atirou o líder do Benfica.